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terça-feira, 18 de setembro de 2012

A árvore e o primeiro mês de volta pra casa.


No dia em que me mudei, percebi que as folhas da árvore em frente já estavam todas tão vermelhas quanto o meu cabelo, e, assim como ele, estavam prontas pra cair no primeiro vento errado que viesse. Respirei fundo e tratei de sumir com as milhares de caixas que trouxe. Me ocupei tanto em achar lugar pra bolsas, louças e os brinquedos que insisto em guardar e foquei tanto em comer em todas as lanchonetes legais das redondezas, que mal tive tempo de pensar no que realmente está acontecendo. Só hoje, quando depois de duas semanas de frio, abri a janela pro sol entrar e percebi que a dita árvore já estava toda verde outra vez, tive a ideia de pensar no calendário. Quanto tempo passou?! Mais de um mês.

É estranho e bom estar de volta em casa. Por um lado é esquisito ver que muitas coisas são iguais em todos os lugares. É, as pessoas ainda me param na fila do supermercado pra perguntar como é feito o meu cabelo. A diferença agora é que muitas delas nem imaginam o quanto eu na verdade estou babando por dentro com a cara de "cidade grande" que elas tem. Não tem jeito, acho que um mês ainda não é o bastante pra me acostumar com essa cara que as pessoas tem aqui, e que só quem já morou em cidade menor sabe ver. Com licença, me deixem ficar encantada com coisas assim, tá? Também é bom estar perto de quem nasceu e cresceu comigo, é bom passar nas mesmas ruas e fazer as mesmas coisas de antes como quem não tivesse se afastado nem por um minuto, mesmo que tenha sido por sete anos.

Dizem que o trânsito daqui é um inferno, mas eu não acho. Sempre achei ruim o de lá. Estou desenvolvendo uma teoria de que as pessoas acabam nutrindo um certo afeto pelo trânsito de suas cidades, mas isso é outra história. Agora estou tendo mesmo problemas com os elevadores, não tenho paciência de ficar esperando esse negócio. Meu deus, parece que todos demoram uma eternidade! Essa é mais uma das coisas que precisam de muitos meses pra eu gostar.

Gosto do sol e do vento que entram pela janela dessa casa aqui. Lá atrás da árvore dá pra ver uma escadaria e também gosto de olhar as pessoas que descem por ela. Tem uns micos que moram nessa tal árvore e as vezes eles não me deixam dormir, mas me lembro que morri de saudade de vê-los quando fui embora. E agora eu tenho só um peixe que insiste em ficar deitado no fundo do aquário o dia todo se deixar, parece que é moda não poder ter animais mais felizes que isso nos prédios, mas se não tivesse nenhum problema era um sonho e não vida real.

Sinto saudade dos meus avós e da minha "tia" que ficou, também de pelo menos saber que estou na mesma cidade que boa parte dos meus amigos. Eu sei que passa e sei que todo mundo ainda vem me ver, mas as vezes fico triste por não pertencer mais ao antigo conjunto. Acho que com o tempo eu vou achar um jeito de pertencer aos dois, mas ainda não sei como proceder. Ainda tem muitas coisas pra ver por aqui, tenho só a certeza de que voltei pra casa. Talvez quando as folhas da árvore começarem a cair de novo, eu pelo menos já saiba como se faz pra usar o interfone e talvez já ache as pessoas comuns, mas por enquanto me divirto entre fazer e não fazer parte de uma parte de mim mesma.