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terça-feira, 17 de junho de 2014

Texto sem título legal sobre meus erros de vida.

Não vou te dizer como viver sua vida em dez lições. Estou farta desses blogs que dão receita para vida. Não somos obrigados a viver como está na moda. Se me permite, eu vou apenas contar o que andei aprendendo na marra, debaixo de muito sal das lágrimas e uma meia dúzia de arrependimentos.

Durante muito tempo tentei eliminar por completo meu ego. Talvez por ler sobre mil filosofias de vida diferentes, eu tenha acreditado que cuidar de mim era cuidar do mundo todo. Nem todas as pessoas querem amor, ajuda ou se importam se minhas intenções são boas. Na realidade, me anular foi a coisa mais estúpida que já fiz. Uma vez que você sempre cede, isso se torna natural. E quando você tenta ter alguma voz, isso não é apenas inesperado, mas também absurdo. Cuidar de mim e do que eu quero não é nenhum crime, estou aprendendo a gostar e a confiar em quem eu sou de novo.

Aprendi a falar menos. Agora só recebe a minha opinião quem se importa com ela. Por incrível que pareça, muitas vezes é melhor calar e observar. Observar como as pessoas agem comigo e com os outros, observar como agem com elas mesmas. O que as pessoas dizem de mim, as vezes diz mais sobre elas do que podem imaginar. Observar, sorrir e deixar que o tempo se encarregue de ensinar lições a cada um. Eu estou aprendendo as minhas, e não discutir com quem só quer ouvir a si mesmo é uma delas.

Por fim, descobri que é importante construir uma carreira, uma vida adulta. Só não é mais importante do que estar entre os meus, com os que realmente importam. A vida é sobre fazer escolhas, e encher a boca para dizer que tudo anda muito corrido e que está sem tempo, é uma escolha bem mais fácil do que sair de casa depois de um dia de trabalho. Acontece que essa é uma escolha que só resolve na hora. Realmente, pode ser que daqui um mês eu esteja menos enrolada e possa sair mais, mas daqui a um mês quem é importante pode não estar mais lá. Viver cada dia como se fosse meu ultimo dia de vida, só me transformou numa pessoa desvairada e sem rumo. Aprendi que é preciso viver como se fosse o ultimo dia de quem eu amo, porque um dia será. Descobri na marra que se deixar algo passar, vou viver sempre com palavras doces não ditas azedando na boca e virando remorso.

Estou fazendo e vendo as coisas de forma diferente agora. Aprendendo a gastar energia com o que realmente importa. O arrependimento é um dos únicos bichinhos que ganhei e não queria ter, mas também é o que me ensinou - e parece continuar ensinando - mais e mais coisas.




sexta-feira, 30 de maio de 2014

All my loving - sobre descobrir o amor em sete anos.

Amei meu primeiro namorado como quem ama um príncipe encantado. Queria me casar, veja só quanta inocência... deu tudo errado. Ao segundo namorado, amei como criança que morre de medo e corre para abraçar o irmão mais velho. Não deu certo, mas irmãos fomos, até o dia em que ele resolveu  deixar de ser irmão para virar anjo da guarda. O terceiro, amei com medo e mágoa, não surpreende que tenha sido tão triste. O quarto, amei como quem tem fome. Queria agarrar ele e o mundo ao mesmo tempo. Queimava a loucura dentro de mim, mas como toda fogueira, apagou e bem rápido. Nada restou.

 O quinto chegou no quinto ano após o primeiro. Fez bagunça, fez sofrer. Fez desenhos no meu corpo e no coração. A ele, amo com plenitude e os pés no chão. Não no chão liso da coerência porque o amor não faz sentido, mas descalça no chão de terra, correndo e sentindo tudo o que tiver. Amo como quem encontrou um lugar para pertencer. Não como amei nenhum outro, porque antes eu não sabia como permanecer, e não sabia como amar. Dessa vez amo e fico, porque quero ficar. Ele permanece até agora, no sétimo ano após o primeiro. Permanecerá. E nele permaneço eu. Porque não há nenhum outro lugar que eu gostaria de estar que não fosse ao seu lado.

É como já tocavam os Beatles, algumas histórias que vieram antes são boas mas "in my life, I'll love you more". Sempre tem um sorvete preferido, um lugar, um cheiro... e um amor que a gente vai amar mais, não importando o amor dos outros.  E é desse que eu quero ficar junto enquanto estiver por aqui. E se existe depois, é ele também.






sexta-feira, 9 de maio de 2014

A culpa.

Nos ensinaram que tudo o que dá errado é culpa nossa. Se a gente vive numa sociedade que acha que a culpa do estupro é da mulher, e a culpa do assalto é de quem atendeu o celular na rua, por que não achariam que a culpa do sofrimento nos relacionamentos é de quem deu tudo de si, e não de quem resolveu ser um babaca, não é mesmo? Isso é fichinha perto de outras opiniões tão grotescas que as pessoas gritam por aí. Só que por favor, não se esqueça que isso é tudo mentira.

Desde pequena, me ensinaram a não provocar, não confiar, não dar bobeira, não dar "mole" por aí. Em relação a tudo? Não, em relação a pessoas. Sempre fomos ensinados a exigir, a pisar pra conseguir as coisas. Você discorda? Aposto que já ouviu conselhos como "não retorna as ligações pra ele(a) sofrer e aprender" ou "pisa que eles grudam".

Se o casamento ou os negócios de alguém estavam indo mal, a culpa provavelmente era da pessoa, que se deixou enganar. A culpa era da mulher que aceitava apanhar, a culpa era do cara que acreditou no sócio, da fulana que caiu num golpe porque era burra. Calma aí, não está escrito em lugar nenhum que as pessoas tem o direito de te fazer mal só porque você confiou nelas. Aliás, não está escrito em lugar nenhum que as pessoas tem o direito de te fazer mal. Só que também não está escrito em nenhum lugar que você pode fazer mal a elas.

Essa lei da defesa se aplica até nas situações mais simples. Por exemplo, sempre tenho amigas que não se apaixonam. Vivo ouvindo "tenho medo de me entregar e sofrer como sofri com meu ultimo namoro". Só uma pergunta: a pessoa que você está saindo agora, é a mesma pessoa de antes ou é um ser totalmente diferente? Ok, uma pessoa escrota apareceu na sua vida achando que tinha o direito de te magoar simplesmente porque ELA não sabia ou simplesmente não queria amar alguém. Mas isso não tem nada a ver com o resto do mundo. E mais ainda: nem sempre isso tem a ver com você.

Magoar pessoas não é uma coisa certa e aceitável e você simplesmente não deve viver com medo de ser magoado. Primeiro porque você pode fazer das suas mágoas o que quiser, não necessariamente guarda-las como um escudo contra o mundo. Você pode fazer até alguma coisa boa com elas, escrever uma canção, sei lá. E segundo, porque uma vez que você faz das suas magoas um escudo contra o mundo, você se torna aquela pessoa que te magoou lá atrás. Provavelmente você vai ter tanto medo de se desfazer das suas tristezas e sequelas anteriores, que não vai perceber quando pessoas legais chegarem. E vai jogar todas as suas frustrações em cima delas, achando que todos são iguais. Frustrações que na verdade, eram destinadas a outra pessoa. Ou talvez a pessoa nenhuma, porque a própria vida se encarrega de ensinar a quem magoa. Palavra de quem já foi idiota e aprendeu bastante.

O que eu quero dizer é: alguém um dia nos ensinou que a melhor defesa era o ataque ou a fuga, mas estavam errados. Esse até é o caminho mais "fácil", mas é um caminho que nunca tem fim. Quanto mais você ataca, quanto mais você foge em vez de amar, mais você contribui pra esse mundo egoísta que se molda a cada dia. Um mundo que culpa quem sofre como se sofrer fosse fraqueza e que não repudia quem machuca, como se isso sim fosse a verdadeira força que faz o mundo girar. Ou talvez seja assim, mas só porque a gente deixou ser e deixa mais a cada "ame ao próximo 100 vezes menos que a si mesmo".



domingo, 4 de maio de 2014

Prazeres pacatos e joaninhas.

Gosto de coisas simples. De passear pelo bairro, de comer pastel na feira, e brincar com os cachorros que as velhinhas levam pra passear no fim da tarde. Também adoro tirar fotos de coisas que eu vejo todo santo dia, como se elas fossem uma grande novidade, mas não sinto necessidade de documentar todos os passeios que faço. Gosto assim, do meio termo.

Amo cinemas de rua. Acho simplesmente maravilhoso ir ao cinema sem entrar no shopping e subir todas aquelas escadas rolantes e de quebra comer comida processada no fim da sessão. Gosto de ver o filme e voltar pra comer na padaria perto de casa, se puder voltar a pé então, melhor ainda. Aliás, restaurantes feiosos me cativam. Sou expert em restaurantes feios, mas com comida muito boa, pode confiar.

Além dos cinemas, as feiras de rua, os brechós e os museus são meus destinos preferidos. Gosto de tudo que me conte uma história. Seja nas mil cores da feira da Praça XV ou na seriedade de um Museu antiguissimo, eu sempre encontro algo pra contar e encantar.

Durmo cedo. Acordo cedo. Gosto do sol de outono no meu rosto, queimando e clareando meu cabelo. Gosto de passear a toa na praia, não sei se olhando o mar, ou as pessoas, ou novamente os cachorros das velhinhas no fim da tarde. Adoro cachorros. (E velhinhas, se elas não falarem de doença porque sou meio hipocondríaca e fico doente junto) Além de cachorros, adoro joaninhas e borboletas. Me sinto abençoada quando uma pousa no meu dedo ou nos meus joelhos.

Gosto de ler. Adoro livros com personagens bem humanos, que me façam sentir mais normal e confortável com os milhares de sentimentos que sou, quer dizer, somos capazes de ter. Ler é um conforto e uma companhia sem cobranças. Quando é Jack Kerouac, é um sopro de vida. Quando é Marta Medeiros no jornal de domingo, é trivial, mas é delicado e eu gosto mesmo assim. Gosto de tudo o que fale da vida e de como ela é.

Olhando assim, pareço meio velha e até desanimada, mas não é bem isso. Me empolgo feito criança com shows de rock, canto loucamente minha música preferida no meio da rua, passo vergonha de tanta empolgação as vezes. É só que, também encontro felicidade na calma das coisas. E acho bonito observar e me encantar com coisas simples. Viver pode ser assim.

Na verdade, quero viver pra ver todas as maravilhas do mundo, as grandonas que alguém disse que eram maravilhas, as que não se pode ver - só sentir - e também as "maravilhas joaninha". Joaninhas encantam, mas se a gente só olhar pras coisas grandes e frenéticas, simplesmente não veremos as joaninhas em nossos joelhos . Assim como as coisas mais simples da vida, que são tão fáceis de fazer e deixamos passar. Então, quero viver pra tudo, inclusive para as joaninhas e outros prazes pacatos.

sábado, 19 de abril de 2014

Eu quero ser a Bridget Fonda tomando sol no telhado.



Cliff e Janet trabalhavam juntos num café. Ela queria estudar arquitetura e ele tinha uma banda grunge. Saíam juntos as vezes, quer dizer, Cliff saía com tudo e todas, mas Janet se limitava a espera-lo ligar. Ela queria alguém engraçado, gentil, romântico e que dissesse "God Bless You" depois que ela espirrasse. Cliff reclamava se ela ficasse perto dele quando resfriada, porque se ele pegasse um resfriado, estragaria os shows marcados. Janet cogitava de tudo para que Cliff gostasse dela, até botar silicone sem querer ter peitos maiores, até fingir que não sabia que ele saía com outras, até ligar mil vezes, ou só comer salada pra não engordar. Cliff só queria curtir um som, sair com os amigos e ignorar aquela garota que tava sempre lá, enchendo o saco dele.

Até que um dia, depois de muito se sentir sozinha, Janet finalmente entendeu que precisava cuidar da própria vida. Saiu do café e usou suas economias não pra botar silicone, mas pra entrar na faculdade que ela tanto queria. Descobriu que era bom ficar sozinha e aí temos uma cena bem legal da Bridget Fonda tomando sol, de roupa, no terraço do prédio.

Cliff se arrependeu e quis voltar, foi gentil, disse que estava com saudades. Depois estourou os vidros do carro dela tentando fazer surpresa com o novo equipamento de som. Pra Janet isso já não tinha mais valor. Ela tinha aprendido a ficar sozinha. Com o tempo, Cliff também entendeu que não tinha sido atencioso na hora certa e agora era tarde demais.

Isso tudo é uma das historinhas contadas em "Singles - Vida de Solteiro", uma comédia romântica ambientada na Seattle dos anos 90, com umas aparições do Pearl Jam e do Alice in Chains. É o meu filme preferido há muitos anos e já há algum tempo eu pensava nessa história em especial. Se eu pudesse ser qualquer pessoa agora, eu seria a Janet tomando sol de roupa no telhado. A Janet que aprendeu a se amar. É isso o que eu sempre quis ser.

No final, eles se encontram no elevador, ela espirra e ele diz o que ela tanto queria ouvir. Eles começam a conversar e dá a entender que agora sim, pode ser a hora certa. Encorajador.

 Mas eu sei que a vida não é um filme grunge dos anos 90. A vida não é Cliff e Janet, por mais que eu queira. A vida sou eu e minhas frustrações, minha inconstância debaixo do sol da Lapa. Não posso garantir finais felizes como num filme do Cameron Crowe mas posso aprender com eles. Eu só posso seguir, trabalhando pra ser a Janet feliz, que até encontra o Cliff de novo, mas não deixa ela mesma pra trás.

Posso aprender a gostar de mim mesma, ser mais segura e vomitar menos de tanto nervosismo. E claro, sempre posso tomar sol na varanda escutando Pearl Jam, se é que isso vai ajudar em alguma coisa, mas parece muito divertido mesmo assim.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Notas sobre mim e sobre nada.

Não sei dançar se estiver sóbria. Tropeço nos meus pés e começo a rir nervosamente, rezando pra música acabar logo. Trauma de infância, timidez ou total ausência de traquejo social mesmo. Não melhora quando eu bebo, mas pelo menos eu não percebo que estou parecendo uma minhoca no sol. Não sei, não sei mesmo lidar.

Da última vez que andei de bicicleta, atropelei um vendedor de churros na orla da Lagoa. Minhas amigas juram que a culpa é minha, mas por que diabos estava o vendedor de churros parado na ciclovia? Ok, eu não sou boa de puxar o freio das coisas mesmo. Nunca evitei me apaixonar, desapaixonar, chorar, começar tudo de novo e ainda rir de mim por isso. Nunca evitei viver.

Durmo pouco, mas sou sempre a primeira a ir embora da festa. Por algum motivo vindo do além, não consigo ficar muito tempo em qualquer lugar que seja. Vivo basicamente de ir embora. Da festa, do trabalho, da cidade. Aí está outra coisa que não consigo evitar: quando dá a minha hora eu simplesmente vou. Sempre achei que o meu problema era morar na roça, mas mesmo na cidade grande eu ainda quero ir embora pra algum lugar que nunca vi, mas parece melhor. (Talvez por isso mesmo)

 A felicidade e a melancolia moram juntas por aqui, e vivem bem, viu? Já vivi o suficiente pra saber que tudo se encaixa, mas que tudo passa também. No fim é só lembrança trancada no fundo da memória, ninguém quer ou ninguém pode saber. A beleza está em observar e simplesmente aceitar como as coisas acontecem.

Aceitar os defeitos. Os poros dilatados, a inaptidão pra dirigir ou dançar, o medo irracional de répteis. O nariz torto, o cabelo com frizz. A falta de talento para cozinhar, o gosto por filmes esquecidos. A dificuldade de fazer coisas que parecem tão simples pros outros.

E depois disso, amar as coisas simples. O Sol que entra pela janela, a língua fofa dos bichinhos de estimação, a canção preferida que toca no rádio falando de liberdade bem quando você está a caminho do escritório.

Não sou boa de me dissolver na multidão, mas até que estou bem assim. Vivendo um dia de cada vez e sentindo tudo o que tiver sofrer. E sorrir.


quarta-feira, 26 de março de 2014

Nostalgia moderna

Sinto saudades do flickr. Mais saudade ainda sinto do fotolog, do flogão, e do webblogger, que eram moda antes dele. E do dolls.com.br?! Não tinha uma menina da quinta série que não fosse viciada naquilo, eu jurava que ia ser estilista por causa daquelas bonecas. Até hoje também não tenho ideia de como sobrevivi aos muitos desconhecidos pra quem eu contava minha vida no chat da uol. Também não sei quantas vezes eu me apaixonei por seres totalmente inexistentes, de livros e filmes, que protagonizavam as fanfics tão adoradas dos foruns de anime ou qualquer coisa nerd.

Moderno era trocar cds gravados em casa, ficar escutando  e sofrendo pra achar o nome das musicas, até hoje não descobri um monte delas. Usar foto de desenho animado no orkut, aquelas correntes pra clicar no peixinho (dessas eu confesso que não sinto saudade). Comunidades totalmente inúteis tipo "cabras não tem muitas ambições", ou comunidades em homenagem ao melhor amigo, que ninguém nunca entrava. Aliás, cito comunidades do orkut até hoje e ninguém entende.

 E quem nunca mandou uma - ou mil - indiretas no subnick do msn? Parece que isso é coisa de um século atrás, mas em 2011 a gente ainda usava.  Já sem os mil emoticons pra cada letra que eram moda no começo, graças a Deus. Na verdade, antes do msn, descolado era o ICQ com aquele barulho de despertador do Bob Esponja quando conectava. O barulho era ótimo pra acordar, porque a internet era tão lenta que eu dormia enquanto esperava conectar. Você tinha que decorar quase uma equação pra fazer login e aquilo parecia moderno! Não vou nem mencionar que a gente tinha que ficar acordado até de madrugada pra se conectar de graça com provedores bizarros tipo Ig e Digerati. Essas coisas ainda existem? Dobraram o cabo da boa esperança junto com o movimento emo, eu acho. Aliás, cadê o emoponto, o diwali e o dibob que a gente se matava pra baixar? 

 E assim se vão pelo menos dez anos desde que chegamos a "modernidade". Em 2005 o futuro parecia ter chegado, mas celulares com televisão pareciam coisa de outro planeta. E aos poucos as nossas saudades vão mudando. Se antes os adultos sentiam saudade de sei lá, usar discos de vinil e mandar cartas, hoje a gente já pode sentir saudade da internet. E assim caminhamos pra quando o whatsapp for ridiculamente obsoleto e nossos filhos se perguntarem como a gente vivia antes de qualquer coisa que nunca nos fez falta na juventude. Pelo menos até agora. 

sábado, 22 de março de 2014

Que acabou indo embora cedo demais.




Conheci Thalis aos nove anos de idade. Era amigo do meu primo, brincando no quarto do lado. Lembro até hoje que troquei de roupa pra ficar bonita pra ele, mesmo sem saber porquê. Ele passou o dia lá, gostava de Harry Potter e de umas musicas do Jota Quest e do LSJack, jurava falar a lingua das formigas, que tinha uma única palavra: "Piii". As seis da tarde eu já estava apaixonada, planejando nosso casamento e essas coisas que toda criança boba faz (vamos fingir que eu nunca fiz isso com meu namorado atual...).


Claro, que isso era em 2003 e crianças não namoram - pelo menos não namoravam naquela época - mas qual não foi a minha surpresa ao voltar pra visitar meus primos e encontrar uma cartinha do tal menino formiga? "Gabi, eu sei que da ultima vez que eu te vi, pareci um idiota, mas queria que você soubesse que eu te amo", era isso o que dizia, a direta e bonita carta de um menino de onze anos. Depois disso, nos vimos ainda muitas vezes, mas não era sempre, e mesmo assim a minha paixonite continuava. Continuou até 2005, quando eu me mudei e nós perdemos totalmente o contato. Sempre senti saudade dele.

Dois anos passaram, até que eu tivesse meu coração partido pela primeira vez. Outro cara qualquer, que jurou amor eterno - e aos treze anos a gente acredita em qualquer um que diga isso, pobre de mim - e me fez ficar em casa, curtindo uma bela fossa por alguns dias. Foi aí que no meio de uma faxina, eu achei a tal cartinha, do tal menino que gostava do Harry Potter. Assim como eu, ele tinha sobrenome dificil e eu me atrevi a procurar no finado orkut. Não deu outra, era ele!

Em um mês, na vespera de natal, ele apareceu lá em casa. Violão nas costas, charlie brown jr, mais do que ensaiado, e nós começamos a namorar. Éramos amigos, amigos acima de tudo, encantados um com o outro desde sempre. Amei-o tanto que talvez nem coubesse numa menina de treze anos. Lembro de passarmos dias conversando sobre rock, de irmos ao fliperama e de ele fazer minha lição de fisica porque eu era muito burra. Na realidade, o Thalis fez a minha lição de fisica até o fim do meu ensino médio, mesmo quando nós já tinhamos terminado há cinco anos. Não durou muito o nosso namoro, terminamos justamente porque éramos amigos demais.

E amigos fomos até hoje, ou até ontem? Eu lembrava dele em tantas coisas, nos grandes shows de rock que fui, na foto que roubei na infância - pra não esquecer nunca seu rosto - e tenho até hoje. Lembro quando novamente, ele apareceu lá em casa no natal, de gorro de papai noel e nós fomos passear na praia assim. Como eu ria, chamando ele de Wally! Seguimos caminhos diferentes na vida, arrumamos amores maravilhosos pra namorar, mas sempre conversávamos por horas. Sobre a vida, sobre o mundo, sobre tudo. Eu tinha sempre a certeza de que seria pra sempre a nossa história. De que eu teria um amigo pra sempre.

Agora, só a história é pra sempre e quero que ela fique contada pelo menos um pouquinho aqui. Thalis faleceu essa semana e eu ainda não consigo acreditar. Sempre vou ama-lo e sentir sua falta, sempre vou contar essa história - como sempre contei - porque é lindo saber que mantive um amor de infância ao meu lado, numa amizade sem igual, apesar de um milhão de adversidades. Eu torcia pelo Thalis e tenho certeza que ele torcia por mim, já que ele sempre me disse isso. Continuo aqui, torcendo pra que ele esteja num lugar maravilhoso agora. Mas não sem morrer de saudade e não sem desejar que tivesse ficado, nem que fosse pra aparecer de surpresa no próximo natal.

quinta-feira, 6 de março de 2014

A seta e o alvo

Chove. Não sei há quanto tempo eu não via chuva por mais de 20 minutos. Eu devia estar resolvendo coisas do trabalho, da faculdade, e de tudo mais que a gente tem que fazer pra viver, mas eu estou aqui olhando a chuva. Olhando e pegando um resfriado, porque sempre entra chuva pela janela do meu apartamento. Chove em mim, chove nas minhas coisas, etc. mas eu quero parar e olhar a chuva hoje. Na verdade, eu só quero parar em algum lugar. E me encontrar.

O meu pai não saiu do hospital no dia que eu esperava que saísse. Nem na próxima data que nos deram, nem na outra. Agora não sei mais quando sai. Não quer visitas, não pode falar muito, não se parece com a pessoa que entrou lá e eu ainda não sei se isso é ruim ou se é bom. O pai da minha melhor amiga de infância morreu logo assim que o meu pai foi internado. Nós nunca tínhamos passado por preocupações estranhas assim. Eu sempre resolvi os meus problemas e sinceramente, seria melhor que todos os problemas fossem comigo. O sofrimento mais bizarro do mundo é aquele que você não pode resolver, porque não é seu. Eu não posso consertar corações que eu não parti.

Tenho ficado em casa, estou sem trabalhar por um tempo. Também não sei se é bom ou ruim, posso ler e assistir filmes, mas também posso pensar na minha própria vida. Cometi um monte de erros nos últimos tempos, um bando deles, uma lista enorme. Me preocupei demais. Realizei menos.

 Em algum lugar me perdi totalmente da criatura encantadora que eu era aos dezesseis ou dezessete. No começo a gente costuma achar que pode tudo. Mas depois a gente cresce e vai tendo medo. Medo de perder as pessoas, medo de magoa-las, medo de não ser bom o suficiente. Vai guardando uma lista de tristezas, de arrependimentos, de coisas que podia ter dito e não disse. Até que um dia, passa um vento e muda todas as coisas de lugar. Aí a sua lista já não serve pra nada, parece tão pequena perto da lista de problemas que chega, e que logo vai parecer pequena quando a próxima chegar.

Vivemos sempre apegados a problemas que achamos ter, mas só percebemos a estupidez disso quando aparecem coisas que nós realmente não podemos dar um jeito. Então vem o arrependimento de não ter aproveitado o tempo de antes pra fazer alguma coisa melhor que reclamar. Eu não sei, mas parece que a vida vai ser sempre assim. Apesar de eu querer que ela seja diferente agora. Estou tentando.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O mundo pode ser bom, se você procurar ser melhor.

Eu já fui muito machista. Até você, que tá na faculdade de serviço social ou de história agora, você também não nasceu no prédio de humanas e  provavelmente já foi muito machista em algum momento da sua vida. Mesmo que tenha sido há séculos atrás no jardim de infância. Acho que todos nós já fomos machistas um dia, mesmo sem perceber, mesmo jurando de pés juntos que não. Até quando já estávamos caminhando pra um momento de ter opinião sobre as coisas, provavelmente ainda éramos machistas. E provavelmente ainda somos machistas (ou racistas, ou homofóbicos, ou várias coisas) em algum aspecto que espero ser possível perceber e corrigir o mais rápido possível.

Acontece, que o que pintam pra nós, é que o feminismo é queimar sutiã. É que o feminismo é abrir mão da sua vida normal pra ir bater panelas por aí. Pintam pra gente que o feminismo significa ser "feia". Assim, entre aspas porquê beleza é relativa desde que o mundo é mundo, mas a gente cresce achando que só existe ou "feio" ou "bonito" e uma coisa nunca pode ser outra. Eu mesma, juro pra vocês, sem nenhuma vergonha, que até o fim do ensino médio era isso mesmo que eu achava. Eu e muita gente que eu conheço, por sinal.

Eu mudei seriamente desde então. Essas pessoas também mudaram,  assim como várias outras pessoas mudam quando recebem a devida explicação. Mudar a opinião dos outros é muito difícil, mas não é tão impossível assim mudar a própria opinião. Não é tão impossível assim se informar diretamente com quem faz um movimento, qualquer que seja, em vez de se informar com quem está contra ele. É fácil ficar de um lado, quando você só escutou ele a vida inteira. Ninguém aprende feminismo no ensino fundamental e quase ninguém aprende feminismo em casa. Eu só tenho 20 anos, não fui pro colégio há tanto tempo assim e posso dizer que nunca aprendi uma virgula sobre identidade de gênero lá. Primeiro passo: se você não procurar se informar, você não vai aprender. Não é do interesse das pessoas "grandes" que você saiba sobre isso, mas pode ser do seu interesse que todos saibam.

Uso o feminismo aqui como o ponto principal, por englobar diversos problemas e não só um, mas me refiro a todo e qualquer movimento. Se você está na internet, se está conectado com o mundo de informação em que tudo acontece em tempo real, vista a carapuça do respeito e vá procurar saber. Mesmo que você não queira ir pra rua, ou coisa assim, eliminar piadas e comentários desnecessários do seu cotidiano já faz uma diferença que você nem imagina. Ou até mesmo não usar frases feitas tipo "é fácil ser a favor do aborto quando você já nasceu" ou "cadê o serviço militar obrigatório para mulheres?" sem pensar sobre o que isso quer dizer antes e sem prestar atenção se isso cabe mesmo naquela discussão também.

Digo isso, porque muitas vezes a gente repete - sim, NÓS, porque eu não sou perfeita - opiniões que já ouvimos por aí, sem pensar que sentido isso faz. E isso vale pra tudo, desde mitos bizarros tipo "apontar estrela dá verruga no dedo" a opiniões extremamente absurdas tipo "foi estuprada porque tava na rua de madrugada". São frases feitas. A gente já ouviu isso um monte de vezes e de vez em quando repete no automático, porque é o mais aceito, porque até no churrasco de domingo alguém disse isso. Segundo passo: se policiar e prestar atenção no que está dizendo também não mata ninguém.

O que eu quero dizer aqui, é que tornar o mundo um lugar melhor, depende muito das nossas pequenas atitudes também. Se informar com os dois lados de uma situação, prestar atenção na opiniões que está reproduzindo e por fim, mas não menos importante, procurar informar outras pessoas. Isso todo mundo pode fazer num dia normal. Na mesa com a familia, no ambiente de trabalho. Sem precisar declarar uma guerra. Se você for você, mas um você mais informado (e informado nos lugares certos), o mundo já se torna um lugar bem melhor pra viver. E se você for você mais informado e não tiver vergonha de assumir que mudou de opinião, melhor ainda pra todos nós.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O tempo.

Terça-feira da semana passada eu tinha 19 anos. Acordei cedo. Corri pra não perder a barca pra Niterói, ou o meu pai ia acabar indo embora do trabalho. Sempre assim, chega de madrugada e vai embora quando um monte de universitários com 40 anos a menos ainda nem acordaram. Cheguei e ele tava lá fora fumando. Perguntou do meu trabalho no museu, perguntou em que ano eu nasci porque ele não lembrava mais, reclamamos do calor. O pessoal do trabalho fez piada com os cigarros dele. Planejamos um churrasco no fim de semana, pra reinaugurar a piscina que finalmente foi consertada. Voltei pra casa muito feliz porque tive um bom dia com meu pai,  é raro a gente se entender assim. Fiquei me sentindo com tudo em paz.

Hoje é quarta. Hoje eu tenho 20 anos, fiz aniversário logo depois daquela terça-feira. Meu vigésimo aniversário também foi o meu último dia trabalhando no Museu. Nasci em 1994. Parou de fazer calor e hoje faz seis dias que o meu pai está internado, com problemas no coração porque fumou demais. Não fizemos churrasco no fim de semana, nem fomos pra piscina. Abri meus presentes de aniversário na sala de espera do hospital. Pelo menos a família toda estava lá.

O meu pai está bem e deve ter alta amanhã. Mas como é a vida? Eu sempre soube que ele fumava, mas nunca esperei que alguma coisa fosse acontecer. Como se apenas por ser pai, ele tivesse pulmões de ferro e 30 anos pra sempre. Porque a gente vive assim, só pensa que a vida pode mudar quando acontece algo pra esfregar isso na nossa cara. Nunca pensei em mudar de trabalho, nunca pensei que as pessoas fossem lembrar do meu aniversário, e tambem nunca pensei que algo podia acontecer com meu pai e aconteceu tudo em uma semana só. Como eu sabiamente tatuei ainda no ensino médio, I'm still Alive, e as coisas estão caminhando por aqui. É só que o jeito como as coisas são fragilmente passageiras me assusta as vezes.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A juventude não é uma banda numa propaganda de refrigerante

Ando deprimida. Quando você faz dezoito anos, o mundo parece novo e brilhante e você tem a sensação de que tudo está ao alcance das suas mãos. Tudo o que você não podia fazer antes, está bem ali esperando por você. Olhando pela primeira vez, isso parece maravilhoso e  ser independente é maravilhoso mesmo. Acontece que construir sua independência pode não ser tão maravilhoso assim.

Há uns anos atrás, eu tinha uma sorte desgraçada; aprontava todas e as consequências pareciam nunca chegar. No fim das contas eu sempre conseguia o que queria e vivia com aquele sorriso confiante de quem sabe que não tem como dar errado. Isso era no colégio, é claro. A diversão era uma garrafa de vinho, os garotos eram tão manipuláveis e os piercings ainda me pareciam grandes novidades. Parece que faz tanto tempo. 

Quando foi que as coisas ficaram assim? A juventude parece um grande album da Mallu Magalhães, onde o ideal de vida é um domingo enorme com alguém do lado, mas é proibido afirmar sentimentos. Dizer "eu te amo" é maluquice, mas postar foto com legenda do Los Hermanos, é definitivamente muito fofo. Eu esperava uma vida - e um amor - ao som de Bon Jovi. Eu queria intensidade e não cautela aos 20 anos de idade. Sempre achei que agora fosse a hora de me entregar e fazer as coisas bizarras que eu via nos clipes de hard rock, mas a minha geração parece estar constantemente pisando em ovos. Parece ter medo de viver com uma pessoa só. 

De repente, todos parecem ter grandes ambições e um medo enorme de se apaixonar. Somos uma geração filha de casamentos desfeitos, de traumas mal curados e da ideia de que o amor é descartável, então, melhor não se entregar se não quiser ser magoado. A ideia de sofrer assusta mais que qualquer coisa agora. O mundo é frenético e a ideia de não experimentar tudo (e todos) aterroriza. Caminhamos pra onde? Quando finalmente aparece alguém legal, a gente estraga tudo com as imagens e medos bizarros que esse mundo cada vez mais rápido "ensinou" pra nós. Somos ensinados a pensar em nós mesmos antes de qualquer coisa. Precisamos estar cercados de adrenalina pra não enlouquecer. 

Eu mesma, estou em casa sozinha há alguns dias e talvez por isso esteja enlouquecendo assim. Já passou o colégio, já passou o brilho de fazer 18 anos, já desisti de ser qualquer coisa alternativa que eu quisesse ser naquela época. Perdi meu tempo vomitando e passando dias sem comer, porque a ansiedade de viver, e me ajeitar e parar com toda essa espera me faz adoecer. Boa parte das minhas amigas tem os mesmos problemas que eu. 

Hoje em dia é tudo tão liberal e o amor é tão fugaz, não era assim que a gente imaginava. Talvez fosse mentira da Disney, do Bon Jovi e dos Backstreet Boys. Como é que a gente vai saber? Não sei. Só sei que talvez eu não esteja tão preparada assim pra me tornar egoísta. Pra só me preocupar com o meu estado quando tudo der errado. Isso deve significar mais dias sem comer, eu acho. Me sinto perdida quando olho pro mundo lá fora, mas sei perfeitamente o que eu não quero ser.