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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O tempo.

Terça-feira da semana passada eu tinha 19 anos. Acordei cedo. Corri pra não perder a barca pra Niterói, ou o meu pai ia acabar indo embora do trabalho. Sempre assim, chega de madrugada e vai embora quando um monte de universitários com 40 anos a menos ainda nem acordaram. Cheguei e ele tava lá fora fumando. Perguntou do meu trabalho no museu, perguntou em que ano eu nasci porque ele não lembrava mais, reclamamos do calor. O pessoal do trabalho fez piada com os cigarros dele. Planejamos um churrasco no fim de semana, pra reinaugurar a piscina que finalmente foi consertada. Voltei pra casa muito feliz porque tive um bom dia com meu pai,  é raro a gente se entender assim. Fiquei me sentindo com tudo em paz.

Hoje é quarta. Hoje eu tenho 20 anos, fiz aniversário logo depois daquela terça-feira. Meu vigésimo aniversário também foi o meu último dia trabalhando no Museu. Nasci em 1994. Parou de fazer calor e hoje faz seis dias que o meu pai está internado, com problemas no coração porque fumou demais. Não fizemos churrasco no fim de semana, nem fomos pra piscina. Abri meus presentes de aniversário na sala de espera do hospital. Pelo menos a família toda estava lá.

O meu pai está bem e deve ter alta amanhã. Mas como é a vida? Eu sempre soube que ele fumava, mas nunca esperei que alguma coisa fosse acontecer. Como se apenas por ser pai, ele tivesse pulmões de ferro e 30 anos pra sempre. Porque a gente vive assim, só pensa que a vida pode mudar quando acontece algo pra esfregar isso na nossa cara. Nunca pensei em mudar de trabalho, nunca pensei que as pessoas fossem lembrar do meu aniversário, e tambem nunca pensei que algo podia acontecer com meu pai e aconteceu tudo em uma semana só. Como eu sabiamente tatuei ainda no ensino médio, I'm still Alive, e as coisas estão caminhando por aqui. É só que o jeito como as coisas são fragilmente passageiras me assusta as vezes.