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sábado, 1 de outubro de 2011

Notas suburbanas.

Há uma grande coisa sobre o verbo "crescer". Quer dizer, você é criança, depois adolescente e então adulto. Sempre achei que eu tinha muito tempo até crescer, mas pensando bem depois que a escola acaba você realmente é obrigado a ser adulto; já que a escola não te impede mais de nada e aí... dane-se, cara, você já é grande mesmo que continue usando a frase "quando eu crescer...".

Todos sabem que crescer, nós crescemos como pessoa a vida inteira, mas quando nós falamos em sociedade, os seus anos de vida acabam contando mais do que se você está preparado ou não.

Passei minha infancia na cidade grande, e pouco antes de ser adolescente fui forçada a me mudar para o suburbio. Sem asfalto, só poeira, sem turistas. Além de estar crescendo - o que já é naturalmente dificil-, pior ainda era lidar com tudo que me parecia tão... pequeno. Passei a vida ouvindo que grandes caras vieram do suburbio, Keith Richards, Mick Jagger, Kurt Cobain. Todo mundo que era Deus pra mim numa época em que voce é estupido o bastante pra achar que Deus era um membro de banda de rock.

Perdi muita coisa que se passava na civilização. Paradas, baladas, pessoas... mas ganhei aqui uma certa dose de indignação e de criatividade. Sempre me fez sofrer o fato de estar tão presa no meio do nada, e talvez por isso eu sempre tenha dito "eu vou ser diferente disso aqui".

Morar no suburbio de um suburbio, trata-se de muitas coisas estranhas, que acontecem em lugares grandes mas que de alguma forma acontecem muito mais aqui. Trata-se de brincar com alguem na rua hoje e ir visitar o bebê dela daqui a um ano. Não dá nem pra contar quanta gente do meu time de queimado hoje já é mãe. E de lidar com olhares (muito) tortos na rua quando você veste o que já vestem há tempos longe daqui, ou de responder mil vezes muito educadamente que você não tem interesse em se converter mesmo que isso signifique olhares ainda mais tortos dos vizinhos.

De certa forma essa indignação acaba atraindo outros indignados e de repente o suburbio não se torna tão ruim, mesmo que ainda não seja bom. E de repente, alem de amigos você tem um incentivo pra não se render ao tédio da falta de opção. As vezes, me pergunto se eu teria visto a opção certa se estivesse dentro delas na capital. Talvez não tivesse visto o que realmente tinha de fazer, e talvez só tenha visto muitas coisas por estar observando de fora daqui do meu tão amaldiçoado fim de mundo.

Nada é por acaso. Eu levei muito tempo pra perceber isso, e com certeza isso tambem era pra ser assim. Agora, de acordo com o sistema, não falta muito pra eu crescer. E então eu tambem vou ser uma grande garota, "que cresceu no suburbio mas era diferente". Diferente de que, se tem tanta gente igual a mim por aí? Talvez diferente por que eu não me conformei em ser isso aqui, mas tambem por ter aprendido muito com a situação.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sobre o medo de ser normal.

Leio muitas crônicas pela internet. E nessa, eu vejo muitas, mas muitas meninas mesmo, descrevendo o quanto elas são diferentes das outras e o quanto elas se sentem melhor sendo diferentes do que fazendo o que todo mundo faz. Eu pensava muito assim até um tempo atrás.

Quando eu era bem criança e ouvia a Avril Lavigne cantando "anything but ordinary", eu concordava. Um tempo depois, quando eu estava com 14 anos, andava quase fantasiada de Kurt Cobain e me enfurnava em casa enquanto minhas amigas saiam, eu tambem gostava de dizer que "eu não preciso fazer essas coisas", "ai, eu sou diferente delas", "eu tenho meu proprio estilo, nunca andaria vestida assim igual a todas as outras".

Mais um tempinho passou e no começo do ano passado, a minha promessa de ano novo foi que eu diria "sim" ao que aparecesse pra fazer sem ficar me impondo limites. E deu certo.

De alguma forma eu percebi que talvez eu me afastasse e julgasse todo mundo por simples medo de cair no lugar comum. E é o que eu vejo as vezes, será que não tem gente aí com medo de experimentar o "normal" e gostar disso?

Quando eu comecei a me desapegar desses rotulos, muita gente achou que eu tava "virando pirigueti", que eu "tava ficando com mal gosto", que eu tinha mudado e tudo mais, mas sinceramente? Eu continuo sendo a unica garota de cabelo rosa na minha sala e nas festas, a unica garota de vestidinho e salto que tem um piercing dentro da boca e a unica que sabe cantar Queen quando toca acidentalmente na balada. Eu continuei sendo "a única" no meu gosto e estilo, o que em nenhum momento me impediu de sair, socializar e agir normalmente como todo mundo age, e... me divertir!

O que eu quero dizer é que não é só porque você é fã do nirvana e seus amigos preferem Katy Perry, que se você ouvir uma musica dela com eles você vai estar traindo seu "movimento grunge" (que só existe na sua imaginação, sinto informar tá?), ou que só porque você prefere usar tenis em vez de salto, seu all star vai fugir de você no dia que você resolver botar um sapato.

Não se julgue uma coisa só! Ou melhor, não se julgue uma coisa tão rasa! Será que que você é tão fraca nos seus conceitos que não aguenta conviver com outros? Ou será que você quer tanto ser de um jeito que tem medo de descobrir que é de outro? Pois pode ficar tranquila: quando você realmente é uma coisa, não precisa se esforçar pra ela aparecer, fica escrito na sua testa sem você saber.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quase 15.

O texto a seguir foi escrito por mim na véspera do meu aniversario de 15 anos, exatamente em 11/2/09 enquanto eu matava aula no primeiro ano. Entreguei ao meu então professor de Gramática, Augusto, que gentilmente me devolveu uns meses depois, junto com muitos bons conselhos:


"Então é assim? Não somos nada mais do que um número? O coletivo não importa, cada um é uma bolha, cada um vive do jeito que não lhe afeta e o jeito que isso afeta o outro tanto faz.
E eu, que quero protestar, não posso? Não seria esse o meu espirito egoista? Eu não sou uma estatistica, eu ainda tenho olhor e coração, eu ainda me sinto igual a qualquer um na rua, porque ainda somos humanos.


E por que somos todos enumerados e obrigados a conviver entre quatro paredes opressoras que acabam com nossos sonhos? Ou melhor, nossos sonhos de um futuro bom. Paredes essas que plantam sempre a mesma ideia: estude, esqueça seus valores, ganhe dinheiro, SEJA GRANDE.
Completo quinze anos amanhã e meu futuro brilhante está açi na esquina, e tudo o que eu quero é desistir. Desistir porque ou eu me torno um androide ou eu morro de fome.


Não acho justo perder 20 anos estudando pra uma prova capitalista disfarçada de "amiga dos que querem alguma coisa da vida". Então só o que eu posso querer é uma aprovação? O que há de bom em mim chama-se "biologia", "fisica"? Eu acho que não. Se fosse assim eu poderia agredir brutalmente alguem e passar em primeiro lugar. Mas mesmo sendo uma agressora, eu seria aclamada. (e não é o que acontece?)


Ainda sendo uma criança que tem medo do escuro, comcluo que já não passo de um numedo. E eu to matando aula de fisica pra escrever isso, talvez nem numero eu seja."


Dois anos e meio se passaram. Vejo o que eu me tornei, uma aspirante a numero, frustrada e afundada em soluções pouco eficazes. Isso tudo era e ainda é uma verdade pra mim e nunca vai deixar de ser. Mas confesso que me assusta lembrar que aos catorze anos eu já via que ia ser assim.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A velha história... não, dessa vez não.

Sempre adorei o fim das coisas. Tamanho ódio que tenho de filmes que acabam apenas dando a entender coisas e livros que me fazem esperar por uma segunda parte! Já que tem que ter fim, que as coisas acabem bem acabadas, não gosto de dar margem pra outras interpretações. Afinal, quando uma história acaba outra começa e, se a historia não acabar de uma vez, nunca pode haver uma nova historia definitiva.

E nessa velha historia -provavelmente a mais velha de todas - fim definitivo não teve. Vez ou outra estou as voltas com uma possibilidade de findar isso de uma forma boa ou má, e ainda assim estamos aqui. Timidez ou falta de vergonha na cara, quem sabe dizer? Só sei que tanto tempo depois a velha musica toca, uma noite surge e lá estavamos nós: nem brigados nem de bem. Assuntos vagos e a vontade de tocar no assunto coçando na ponta da lingua. Nunca aconteceu.

Mas como a vida é mesmo insistente, outra noite dessas tentou ser escrita nessa velha historia. Dessa vez, ficou só no rascunho. Não tive arrepios, não odiei todo o meu armario sem ter o que vestir, nem me dei ao trabalho de tingir as unhas de vermelho. Me vesti sim, escolhi muito bem um esmalte... pra mim, pra ficar em casa postando no meu blog. De repente já não importava mais.

Como quando eu era criança e fiquei aguardando séculos pelo ultimo livro de Harry Potter. A historia me acompanhou por anos, mas quando o fim definitivo chegou eu já tinha tirado os posteres da Grifinoria da parede e na minha cabeceira, outras trilogias já reinavam. Eu até li, mas o fim definitivo já não importava tanto assim. E pra essa velha história, fica a mesma coisa: se o "fim" acontecer é só uma questão simbolica, porque eu realmente já estou em outro livro.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A velha história da ovelha negra da familia.

Sempre soube que era estranha. Não importava o assunto, fosse a minha cara ou o que eu dizia, eu era estranha. Conforme eu ia crescendo e ouvindo meus pais contarem o quanto as minhas irmãs eram inteligentes e estavam indo bem na vida ( e o quanto eu tambem seria assim um dia), eu só tinha mais certeza de que eu não era boa assim e que obviamente um dia eles teriam que saber, e se decepcionar.

E conforme me viam crescer, acho que eles tambem se davam conta de que apesar de dois sucessos anteriores, alguma coisa tinha saído errado dessa vez.

Nunca fui uma aluna incrivel. a vida inteira fui muito elogiada pelos meus trabalhos de artes, redações e provas de história, mas se voce olhar bem isso não me deixa nem perto de me tornar uma brilhante médica ou engenheira como todo mundo sonhava. Como o mundo inteiro sonha, mas eu nunca.

Varias garotas leem esse blog e sei que diversas vezes se guiam por ele, o que significa que eu devia dizer pra voces que há uma formula magica para crescer e corresponder a todas as expectativas do mundo. Algum tipo de post sobre "como achar seu lugar no planeta em 10 passos", mas eu nao sei fazer isso. Eu sei provavelmente dicas ridiculamente rasas que nos dão em pre-vestibulares sobre "fazer algo que voce gosta", "fazer algo que vai te servir pra alguma coisa", mas eu e voces sabemos que as coisas não são faceis assim.

A questão em mim não é não saber quem eu sou ou quem eu quero me tornar, isso eu sempre soube. A vida inteira eu me olhei no espelho e tive certeza que a tendência era só corresponder ainda menos aos padrões. Quando criança sonhava em sair de casa pra ser tão estranha quanto eu quisesse sem precisar ouvir isso de ninguém, mas daí eu cresci e percebi que meus pais nunca fizeram isso por mal.

Talvez todo mundo achasse que era só uma fase, e é o que todo mundo com quem eu converso ainda acha. E por isso mesmo me aconselham a entrar nos eixos, a seguir o rebanho e entrar logo numa faculdade que vai garantir o meu futuro. Eu gostaria muito que eles estivessem errados.
Mas por que eles ficaram certos?

Vivemos num mundo onde é mais pratico sufocar nossas verdadeiras opiniões em nome da segurança de ter um carro e uma casa daqui a vinte anos. E provavelmente choverão pessoas "adultas" entendidas do assunto pra conversar comigo depois desse texto, pra me dizer que eu sou jovem e que os jovens sonham muito, mas eu realmente tenho medo de deixar de ser assim.

Me pergunto o que vai sobrar de mim, realmente de mim, se eu abrir mão do que é dito "estranho" pelas pessoas "responsaveis" . O que realmente sobrou de todo o resto? Todos escolheremos nossos caminhos pensando em corresponder expectativas? Primeiro as dos nossos pais, depois dos professores e aí do mercado... e as nossas proprias expectativas? As expectativas são dinheiro? Entao a gente come as expectativas, mora nelas, paga a escola dos filhos? Eu não sei, acho que poucas pessoas sabem.

Correr atras dos seus sonhos soa muito bonito, e realmente é um ótimo conselho se voce consegue. Mas penso tambem em quantas pessoas eu vou claramente decepcionar com isso. Porque eu sempre soube que alguma coisa tinha saído errado comigo, e até hoje eu consegui disfarçar isso até que muito bem. Eu sempre tive certeza que alguma hora eu ia ter que decidir entre ser eu ou fazer todo mundo feliz, achava que ia poder resolver isso quando a hora chegasse. O problema é que a hora chegou e eu ainda não sei o que fazer.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Obrigada (por ter me dado um pé na bunda)

Ultimamente, as pessoas tem me procurado pra pedir conselhos amorosos. Alias, não é de hoje que alguns amigos me procuram. Sempre de uma forma direta e meio bizarra eu procuro ajudar ou pelo menos escutar. Pois hoje, eu que vou contar uma história pra vocês.

Namoro há maior tempão, mas mesmo sendo muito tempo, antes disso eu obviamente vivi algumas outras coisas (leia-se: tive um numero bom de namorados). Nunca fui uma namorada comum, frequentemente ouvia um "todas as garotas querem isso, menos você! Como assim?", mas nesse caso em especial, eu dei trabalho.

Porquê eu dei trabalho, não é bem o foco desse texto. O foco é que eu levei um belo pé na bunda, assim com todas as letras mesmo. Não foi um fora, não fui largada... levei mesmo um pé na bunda. Durante os primeiros dias, eu fiquei re-vol-ta-da. Daí, todos aqueles clichês começam a passar na sua cabeça: "como eu pude ser tão burra?", "como eu não percebi que estava estragando tudo?" "como ele pode ser tão canalha?", isso tudo aí mesmo. Eu estava magoada, mas preciso admitir: naquela época eu era mesmo infantil. Dava shows de ciume por qualquer coisa, queria muito mais atenção que o necessário e inumeras vezes provocava brigas por pura birra de coisas pequenas. Admito, eu era realmente uma praga.

Desenterrei então todos os cds do nirvana, que até então eu guardava apenas pros momentos de maior depressão. Tirei todas as roupas surradas do armario e fiquei fazendo cosplay de grunge abandonada por uns dias. Mas eis que aí, eu comecei a prestar atenção no que eu estava ouvindo. E então, eu realmente me apaixonei pela primeira vez. Baixei Soundgarden, Guns n Roses, Queen e o que foi transformador: Ramones. Porque eu me sentia revoltada demais pra voltar pros meus cds de reggae ou surf music, ou qualquer coisa que eu ouvisse, e aí eu realmente descobri o rock n roll.

Junto com o rock que embalava toda minha raiva, eu parei pra ler. Como ficar na internet fuçando a vida do ex realmente doía, eu me afundei em livros. E em tres meses já tinha lido coleções inteiras! Como toda largada que se preze, tambem resolvi mudar de visual. Meu cabelos longos e dourados deram lugar a um mais curto e meio ruivo, minhas roupas ficaram menos largadas e eu passei a me ocupar com outras coisas. Foi aí tambem que comprei minha primeira câmera e acabei descobrindo que adorava fotos! (mas não, elas não eram boas)

E aí, por um acaso do destino, eu conheci o meu atual namorado. Que eu jamais conheceria se não fosse o pé na bunda que eu levei. Se eu nao tivesse tido um namorado antes, não tivesse sofrido, e me tornado uma pessoa mais interessante, nós simplesmente não teriamos nenhum gosto em comum! E a "nova musica" que eu tinha descoberto nos meus dias de tristeza acabou se tornando principal assunto com o meu novo amor. Irônico, mas divertido.

Sinceramente? Se eu pudesse dizer uma coisa ao meu ex-namorado (que certamente vai ler isso), essa coisa seria "Obrigada por ter me largado". Se ele não tivesse feito isso, eu não sei quando eu pararia pra investir em mim. Pra conhecer novas coisas, ampliar as opiniões, sonhos e tambem as probabilidades de conhecer alguem beeeeeeeeem melhor. Então, do namoro que passou, que fique claro: a melhor coisa que ficou foi o fim.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A revolução de cabelo rosa.


Quando eu tinha 11 anos, escrevi uma espécie de livro. Começou com um trabalho de escola e eu acabei escrevendo uma versão maior em casa, no meu velho Windows 98. Hoje estava meio brisando numa aula de literatura e de repente um termo estranho me veio a mente: "a revolução de cabelo rosa". Por uns minutos tentei me lembrar que diabos de nome cafona era esse e então me deu um estalo: era o nome de um dos capitulos do tal livro, escolhido por uma colega de classe na época.

Era uma história simples, mas vamos ver se vocês acompanham meu raciocinio: tratava-se basicamente de uma garota desastrada, fã da Califórnia, com piercing no nariz e o cabelo preto lotado de mechas cor de rosa. Mesma garota essa que acabava envolvida com um cara cabeludo, roqueiro, tatuado e estranho. Sentiu alguma semelhança com a minha vida real? Eu também. E ri pra caramba no meio da aula.

Me lembro que quando escrevi isso, no auge da minha quinta série, eu realmente achava meus personagens principais adoravelmente descolados, dignos de viver tudo aquilo que eu realmente achava que era estranho. E talvez fosse, pra quem estava na quinta série.

Só seis anos se passaram desde então. E completamente independente dessa historia, eu me tornei uma garota desastrada, de cabelo rosa, piercing e namorado roqueiro estranho. Mas agora, isso me parece completamente normal. E se você parar pra pensar bem... isso é normal!

Muitas meninas bem novinhas me procuram pra dizer que os pais acham estranho o estilo que elas querem ter, que não deixam elas pintarem cabelo ou coisa assim. Mas sinceramente? Talvez isso não seja ruim, cada coisa tem seu tempo. Acho que naturalmente você vai se tornar aquilo que gosta quando você realmente pertence a aquilo ali, independente de ser agora ou mais tarde. É só dar tempo ao tempo, esperar um pouco e ocupar sua mente com outras coisas. Porque quando você menos esperar vai ter se tornado quem sempre quis. Ou melhor, vai se dar conta de que sempre foi o que queria ser e ainda não tinha descoberto.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A velha história do patinho feio.


Nunca fui exatamente uma garota bonita. Quando criança talvez até enganasse bem, mas conforme ia crescendo era evidente: enquanto todas as minhas amigas pareciam ter um jeito natural pras coisas comuns a meninas da nossa idade, eu era sempre a desajeitada. Sou baixinha e magricela, dificilmente deixava o cabelo crescer e mesmo me vestido igual a todo mundo, eu parecia estranha. Sempre fui timida e muito raramente contava mais do que cinco contatos numa turma. Fui a ultima a beijar, arrumar namorado, usar sutiã. Sempre ali, meio capengando, meio sendo a amiga esquisitinha.

Mas sinceramente? Não é uma coisa da qual eu me queixe. Penso que talvez, se eu tivesse sido a amiga bonita e simpática, não tivesse me permitido tantas coisas. Já tendo mesmo a consciencia de que eu não dava pra ser uma pessoa normal, sempre me permiti inovar. Talvez, e só talvez, a ausência de beleza tenha criado algo bonito em mim. Um visual, um gosto , uma personalidade diferente. Criou em mim uma especie de ousadia que eu não teria se tivesse ouvido um "como você é linda" a vida inteira. Aos poucos, construi beleza em mim de uma forma diferente e penso sinceramente que seja mais divertido assim. Existem muitos padrões por aí, e em algum lugar alguem vai ver isso. Mas não importa, desde que eu mesma veja.

E quando volta e meia bate aquela insegurança na hora de sair pra balada com as amigas, é só lembrar que o importante mesmo é abrir aquele sorrisão e se divertir porque a beleza tambem é uma questão da sua atitude em relação ao mundo lá fora, certo?