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terça-feira, 17 de junho de 2014

Texto sem título legal sobre meus erros de vida.

Não vou te dizer como viver sua vida em dez lições. Estou farta desses blogs que dão receita para vida. Não somos obrigados a viver como está na moda. Se me permite, eu vou apenas contar o que andei aprendendo na marra, debaixo de muito sal das lágrimas e uma meia dúzia de arrependimentos.

Durante muito tempo tentei eliminar por completo meu ego. Talvez por ler sobre mil filosofias de vida diferentes, eu tenha acreditado que cuidar de mim era cuidar do mundo todo. Nem todas as pessoas querem amor, ajuda ou se importam se minhas intenções são boas. Na realidade, me anular foi a coisa mais estúpida que já fiz. Uma vez que você sempre cede, isso se torna natural. E quando você tenta ter alguma voz, isso não é apenas inesperado, mas também absurdo. Cuidar de mim e do que eu quero não é nenhum crime, estou aprendendo a gostar e a confiar em quem eu sou de novo.

Aprendi a falar menos. Agora só recebe a minha opinião quem se importa com ela. Por incrível que pareça, muitas vezes é melhor calar e observar. Observar como as pessoas agem comigo e com os outros, observar como agem com elas mesmas. O que as pessoas dizem de mim, as vezes diz mais sobre elas do que podem imaginar. Observar, sorrir e deixar que o tempo se encarregue de ensinar lições a cada um. Eu estou aprendendo as minhas, e não discutir com quem só quer ouvir a si mesmo é uma delas.

Por fim, descobri que é importante construir uma carreira, uma vida adulta. Só não é mais importante do que estar entre os meus, com os que realmente importam. A vida é sobre fazer escolhas, e encher a boca para dizer que tudo anda muito corrido e que está sem tempo, é uma escolha bem mais fácil do que sair de casa depois de um dia de trabalho. Acontece que essa é uma escolha que só resolve na hora. Realmente, pode ser que daqui um mês eu esteja menos enrolada e possa sair mais, mas daqui a um mês quem é importante pode não estar mais lá. Viver cada dia como se fosse meu ultimo dia de vida, só me transformou numa pessoa desvairada e sem rumo. Aprendi que é preciso viver como se fosse o ultimo dia de quem eu amo, porque um dia será. Descobri na marra que se deixar algo passar, vou viver sempre com palavras doces não ditas azedando na boca e virando remorso.

Estou fazendo e vendo as coisas de forma diferente agora. Aprendendo a gastar energia com o que realmente importa. O arrependimento é um dos únicos bichinhos que ganhei e não queria ter, mas também é o que me ensinou - e parece continuar ensinando - mais e mais coisas.




sexta-feira, 30 de maio de 2014

All my loving - sobre descobrir o amor em sete anos.

Amei meu primeiro namorado como quem ama um príncipe encantado. Queria me casar, veja só quanta inocência... deu tudo errado. Ao segundo namorado, amei como criança que morre de medo e corre para abraçar o irmão mais velho. Não deu certo, mas irmãos fomos, até o dia em que ele resolveu  deixar de ser irmão para virar anjo da guarda. O terceiro, amei com medo e mágoa, não surpreende que tenha sido tão triste. O quarto, amei como quem tem fome. Queria agarrar ele e o mundo ao mesmo tempo. Queimava a loucura dentro de mim, mas como toda fogueira, apagou e bem rápido. Nada restou.

 O quinto chegou no quinto ano após o primeiro. Fez bagunça, fez sofrer. Fez desenhos no meu corpo e no coração. A ele, amo com plenitude e os pés no chão. Não no chão liso da coerência porque o amor não faz sentido, mas descalça no chão de terra, correndo e sentindo tudo o que tiver. Amo como quem encontrou um lugar para pertencer. Não como amei nenhum outro, porque antes eu não sabia como permanecer, e não sabia como amar. Dessa vez amo e fico, porque quero ficar. Ele permanece até agora, no sétimo ano após o primeiro. Permanecerá. E nele permaneço eu. Porque não há nenhum outro lugar que eu gostaria de estar que não fosse ao seu lado.

É como já tocavam os Beatles, algumas histórias que vieram antes são boas mas "in my life, I'll love you more". Sempre tem um sorvete preferido, um lugar, um cheiro... e um amor que a gente vai amar mais, não importando o amor dos outros.  E é desse que eu quero ficar junto enquanto estiver por aqui. E se existe depois, é ele também.






sexta-feira, 9 de maio de 2014

A culpa.

Nos ensinaram que tudo o que dá errado é culpa nossa. Se a gente vive numa sociedade que acha que a culpa do estupro é da mulher, e a culpa do assalto é de quem atendeu o celular na rua, por que não achariam que a culpa do sofrimento nos relacionamentos é de quem deu tudo de si, e não de quem resolveu ser um babaca, não é mesmo? Isso é fichinha perto de outras opiniões tão grotescas que as pessoas gritam por aí. Só que por favor, não se esqueça que isso é tudo mentira.

Desde pequena, me ensinaram a não provocar, não confiar, não dar bobeira, não dar "mole" por aí. Em relação a tudo? Não, em relação a pessoas. Sempre fomos ensinados a exigir, a pisar pra conseguir as coisas. Você discorda? Aposto que já ouviu conselhos como "não retorna as ligações pra ele(a) sofrer e aprender" ou "pisa que eles grudam".

Se o casamento ou os negócios de alguém estavam indo mal, a culpa provavelmente era da pessoa, que se deixou enganar. A culpa era da mulher que aceitava apanhar, a culpa era do cara que acreditou no sócio, da fulana que caiu num golpe porque era burra. Calma aí, não está escrito em lugar nenhum que as pessoas tem o direito de te fazer mal só porque você confiou nelas. Aliás, não está escrito em lugar nenhum que as pessoas tem o direito de te fazer mal. Só que também não está escrito em nenhum lugar que você pode fazer mal a elas.

Essa lei da defesa se aplica até nas situações mais simples. Por exemplo, sempre tenho amigas que não se apaixonam. Vivo ouvindo "tenho medo de me entregar e sofrer como sofri com meu ultimo namoro". Só uma pergunta: a pessoa que você está saindo agora, é a mesma pessoa de antes ou é um ser totalmente diferente? Ok, uma pessoa escrota apareceu na sua vida achando que tinha o direito de te magoar simplesmente porque ELA não sabia ou simplesmente não queria amar alguém. Mas isso não tem nada a ver com o resto do mundo. E mais ainda: nem sempre isso tem a ver com você.

Magoar pessoas não é uma coisa certa e aceitável e você simplesmente não deve viver com medo de ser magoado. Primeiro porque você pode fazer das suas mágoas o que quiser, não necessariamente guarda-las como um escudo contra o mundo. Você pode fazer até alguma coisa boa com elas, escrever uma canção, sei lá. E segundo, porque uma vez que você faz das suas magoas um escudo contra o mundo, você se torna aquela pessoa que te magoou lá atrás. Provavelmente você vai ter tanto medo de se desfazer das suas tristezas e sequelas anteriores, que não vai perceber quando pessoas legais chegarem. E vai jogar todas as suas frustrações em cima delas, achando que todos são iguais. Frustrações que na verdade, eram destinadas a outra pessoa. Ou talvez a pessoa nenhuma, porque a própria vida se encarrega de ensinar a quem magoa. Palavra de quem já foi idiota e aprendeu bastante.

O que eu quero dizer é: alguém um dia nos ensinou que a melhor defesa era o ataque ou a fuga, mas estavam errados. Esse até é o caminho mais "fácil", mas é um caminho que nunca tem fim. Quanto mais você ataca, quanto mais você foge em vez de amar, mais você contribui pra esse mundo egoísta que se molda a cada dia. Um mundo que culpa quem sofre como se sofrer fosse fraqueza e que não repudia quem machuca, como se isso sim fosse a verdadeira força que faz o mundo girar. Ou talvez seja assim, mas só porque a gente deixou ser e deixa mais a cada "ame ao próximo 100 vezes menos que a si mesmo".



domingo, 4 de maio de 2014

Prazeres pacatos e joaninhas.

Gosto de coisas simples. De passear pelo bairro, de comer pastel na feira, e brincar com os cachorros que as velhinhas levam pra passear no fim da tarde. Também adoro tirar fotos de coisas que eu vejo todo santo dia, como se elas fossem uma grande novidade, mas não sinto necessidade de documentar todos os passeios que faço. Gosto assim, do meio termo.

Amo cinemas de rua. Acho simplesmente maravilhoso ir ao cinema sem entrar no shopping e subir todas aquelas escadas rolantes e de quebra comer comida processada no fim da sessão. Gosto de ver o filme e voltar pra comer na padaria perto de casa, se puder voltar a pé então, melhor ainda. Aliás, restaurantes feiosos me cativam. Sou expert em restaurantes feios, mas com comida muito boa, pode confiar.

Além dos cinemas, as feiras de rua, os brechós e os museus são meus destinos preferidos. Gosto de tudo que me conte uma história. Seja nas mil cores da feira da Praça XV ou na seriedade de um Museu antiguissimo, eu sempre encontro algo pra contar e encantar.

Durmo cedo. Acordo cedo. Gosto do sol de outono no meu rosto, queimando e clareando meu cabelo. Gosto de passear a toa na praia, não sei se olhando o mar, ou as pessoas, ou novamente os cachorros das velhinhas no fim da tarde. Adoro cachorros. (E velhinhas, se elas não falarem de doença porque sou meio hipocondríaca e fico doente junto) Além de cachorros, adoro joaninhas e borboletas. Me sinto abençoada quando uma pousa no meu dedo ou nos meus joelhos.

Gosto de ler. Adoro livros com personagens bem humanos, que me façam sentir mais normal e confortável com os milhares de sentimentos que sou, quer dizer, somos capazes de ter. Ler é um conforto e uma companhia sem cobranças. Quando é Jack Kerouac, é um sopro de vida. Quando é Marta Medeiros no jornal de domingo, é trivial, mas é delicado e eu gosto mesmo assim. Gosto de tudo o que fale da vida e de como ela é.

Olhando assim, pareço meio velha e até desanimada, mas não é bem isso. Me empolgo feito criança com shows de rock, canto loucamente minha música preferida no meio da rua, passo vergonha de tanta empolgação as vezes. É só que, também encontro felicidade na calma das coisas. E acho bonito observar e me encantar com coisas simples. Viver pode ser assim.

Na verdade, quero viver pra ver todas as maravilhas do mundo, as grandonas que alguém disse que eram maravilhas, as que não se pode ver - só sentir - e também as "maravilhas joaninha". Joaninhas encantam, mas se a gente só olhar pras coisas grandes e frenéticas, simplesmente não veremos as joaninhas em nossos joelhos . Assim como as coisas mais simples da vida, que são tão fáceis de fazer e deixamos passar. Então, quero viver pra tudo, inclusive para as joaninhas e outros prazes pacatos.

sábado, 19 de abril de 2014

Eu quero ser a Bridget Fonda tomando sol no telhado.



Cliff e Janet trabalhavam juntos num café. Ela queria estudar arquitetura e ele tinha uma banda grunge. Saíam juntos as vezes, quer dizer, Cliff saía com tudo e todas, mas Janet se limitava a espera-lo ligar. Ela queria alguém engraçado, gentil, romântico e que dissesse "God Bless You" depois que ela espirrasse. Cliff reclamava se ela ficasse perto dele quando resfriada, porque se ele pegasse um resfriado, estragaria os shows marcados. Janet cogitava de tudo para que Cliff gostasse dela, até botar silicone sem querer ter peitos maiores, até fingir que não sabia que ele saía com outras, até ligar mil vezes, ou só comer salada pra não engordar. Cliff só queria curtir um som, sair com os amigos e ignorar aquela garota que tava sempre lá, enchendo o saco dele.

Até que um dia, depois de muito se sentir sozinha, Janet finalmente entendeu que precisava cuidar da própria vida. Saiu do café e usou suas economias não pra botar silicone, mas pra entrar na faculdade que ela tanto queria. Descobriu que era bom ficar sozinha e aí temos uma cena bem legal da Bridget Fonda tomando sol, de roupa, no terraço do prédio.

Cliff se arrependeu e quis voltar, foi gentil, disse que estava com saudades. Depois estourou os vidros do carro dela tentando fazer surpresa com o novo equipamento de som. Pra Janet isso já não tinha mais valor. Ela tinha aprendido a ficar sozinha. Com o tempo, Cliff também entendeu que não tinha sido atencioso na hora certa e agora era tarde demais.

Isso tudo é uma das historinhas contadas em "Singles - Vida de Solteiro", uma comédia romântica ambientada na Seattle dos anos 90, com umas aparições do Pearl Jam e do Alice in Chains. É o meu filme preferido há muitos anos e já há algum tempo eu pensava nessa história em especial. Se eu pudesse ser qualquer pessoa agora, eu seria a Janet tomando sol de roupa no telhado. A Janet que aprendeu a se amar. É isso o que eu sempre quis ser.

No final, eles se encontram no elevador, ela espirra e ele diz o que ela tanto queria ouvir. Eles começam a conversar e dá a entender que agora sim, pode ser a hora certa. Encorajador.

 Mas eu sei que a vida não é um filme grunge dos anos 90. A vida não é Cliff e Janet, por mais que eu queira. A vida sou eu e minhas frustrações, minha inconstância debaixo do sol da Lapa. Não posso garantir finais felizes como num filme do Cameron Crowe mas posso aprender com eles. Eu só posso seguir, trabalhando pra ser a Janet feliz, que até encontra o Cliff de novo, mas não deixa ela mesma pra trás.

Posso aprender a gostar de mim mesma, ser mais segura e vomitar menos de tanto nervosismo. E claro, sempre posso tomar sol na varanda escutando Pearl Jam, se é que isso vai ajudar em alguma coisa, mas parece muito divertido mesmo assim.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Notas sobre mim e sobre nada.

Não sei dançar se estiver sóbria. Tropeço nos meus pés e começo a rir nervosamente, rezando pra música acabar logo. Trauma de infância, timidez ou total ausência de traquejo social mesmo. Não melhora quando eu bebo, mas pelo menos eu não percebo que estou parecendo uma minhoca no sol. Não sei, não sei mesmo lidar.

Da última vez que andei de bicicleta, atropelei um vendedor de churros na orla da Lagoa. Minhas amigas juram que a culpa é minha, mas por que diabos estava o vendedor de churros parado na ciclovia? Ok, eu não sou boa de puxar o freio das coisas mesmo. Nunca evitei me apaixonar, desapaixonar, chorar, começar tudo de novo e ainda rir de mim por isso. Nunca evitei viver.

Durmo pouco, mas sou sempre a primeira a ir embora da festa. Por algum motivo vindo do além, não consigo ficar muito tempo em qualquer lugar que seja. Vivo basicamente de ir embora. Da festa, do trabalho, da cidade. Aí está outra coisa que não consigo evitar: quando dá a minha hora eu simplesmente vou. Sempre achei que o meu problema era morar na roça, mas mesmo na cidade grande eu ainda quero ir embora pra algum lugar que nunca vi, mas parece melhor. (Talvez por isso mesmo)

 A felicidade e a melancolia moram juntas por aqui, e vivem bem, viu? Já vivi o suficiente pra saber que tudo se encaixa, mas que tudo passa também. No fim é só lembrança trancada no fundo da memória, ninguém quer ou ninguém pode saber. A beleza está em observar e simplesmente aceitar como as coisas acontecem.

Aceitar os defeitos. Os poros dilatados, a inaptidão pra dirigir ou dançar, o medo irracional de répteis. O nariz torto, o cabelo com frizz. A falta de talento para cozinhar, o gosto por filmes esquecidos. A dificuldade de fazer coisas que parecem tão simples pros outros.

E depois disso, amar as coisas simples. O Sol que entra pela janela, a língua fofa dos bichinhos de estimação, a canção preferida que toca no rádio falando de liberdade bem quando você está a caminho do escritório.

Não sou boa de me dissolver na multidão, mas até que estou bem assim. Vivendo um dia de cada vez e sentindo tudo o que tiver sofrer. E sorrir.


quarta-feira, 26 de março de 2014

Nostalgia moderna

Sinto saudades do flickr. Mais saudade ainda sinto do fotolog, do flogão, e do webblogger, que eram moda antes dele. E do dolls.com.br?! Não tinha uma menina da quinta série que não fosse viciada naquilo, eu jurava que ia ser estilista por causa daquelas bonecas. Até hoje também não tenho ideia de como sobrevivi aos muitos desconhecidos pra quem eu contava minha vida no chat da uol. Também não sei quantas vezes eu me apaixonei por seres totalmente inexistentes, de livros e filmes, que protagonizavam as fanfics tão adoradas dos foruns de anime ou qualquer coisa nerd.

Moderno era trocar cds gravados em casa, ficar escutando  e sofrendo pra achar o nome das musicas, até hoje não descobri um monte delas. Usar foto de desenho animado no orkut, aquelas correntes pra clicar no peixinho (dessas eu confesso que não sinto saudade). Comunidades totalmente inúteis tipo "cabras não tem muitas ambições", ou comunidades em homenagem ao melhor amigo, que ninguém nunca entrava. Aliás, cito comunidades do orkut até hoje e ninguém entende.

 E quem nunca mandou uma - ou mil - indiretas no subnick do msn? Parece que isso é coisa de um século atrás, mas em 2011 a gente ainda usava.  Já sem os mil emoticons pra cada letra que eram moda no começo, graças a Deus. Na verdade, antes do msn, descolado era o ICQ com aquele barulho de despertador do Bob Esponja quando conectava. O barulho era ótimo pra acordar, porque a internet era tão lenta que eu dormia enquanto esperava conectar. Você tinha que decorar quase uma equação pra fazer login e aquilo parecia moderno! Não vou nem mencionar que a gente tinha que ficar acordado até de madrugada pra se conectar de graça com provedores bizarros tipo Ig e Digerati. Essas coisas ainda existem? Dobraram o cabo da boa esperança junto com o movimento emo, eu acho. Aliás, cadê o emoponto, o diwali e o dibob que a gente se matava pra baixar? 

 E assim se vão pelo menos dez anos desde que chegamos a "modernidade". Em 2005 o futuro parecia ter chegado, mas celulares com televisão pareciam coisa de outro planeta. E aos poucos as nossas saudades vão mudando. Se antes os adultos sentiam saudade de sei lá, usar discos de vinil e mandar cartas, hoje a gente já pode sentir saudade da internet. E assim caminhamos pra quando o whatsapp for ridiculamente obsoleto e nossos filhos se perguntarem como a gente vivia antes de qualquer coisa que nunca nos fez falta na juventude. Pelo menos até agora.