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domingo, 4 de maio de 2014

Prazeres pacatos e joaninhas.

Gosto de coisas simples. De passear pelo bairro, de comer pastel na feira, e brincar com os cachorros que as velhinhas levam pra passear no fim da tarde. Também adoro tirar fotos de coisas que eu vejo todo santo dia, como se elas fossem uma grande novidade, mas não sinto necessidade de documentar todos os passeios que faço. Gosto assim, do meio termo.

Amo cinemas de rua. Acho simplesmente maravilhoso ir ao cinema sem entrar no shopping e subir todas aquelas escadas rolantes e de quebra comer comida processada no fim da sessão. Gosto de ver o filme e voltar pra comer na padaria perto de casa, se puder voltar a pé então, melhor ainda. Aliás, restaurantes feiosos me cativam. Sou expert em restaurantes feios, mas com comida muito boa, pode confiar.

Além dos cinemas, as feiras de rua, os brechós e os museus são meus destinos preferidos. Gosto de tudo que me conte uma história. Seja nas mil cores da feira da Praça XV ou na seriedade de um Museu antiguissimo, eu sempre encontro algo pra contar e encantar.

Durmo cedo. Acordo cedo. Gosto do sol de outono no meu rosto, queimando e clareando meu cabelo. Gosto de passear a toa na praia, não sei se olhando o mar, ou as pessoas, ou novamente os cachorros das velhinhas no fim da tarde. Adoro cachorros. (E velhinhas, se elas não falarem de doença porque sou meio hipocondríaca e fico doente junto) Além de cachorros, adoro joaninhas e borboletas. Me sinto abençoada quando uma pousa no meu dedo ou nos meus joelhos.

Gosto de ler. Adoro livros com personagens bem humanos, que me façam sentir mais normal e confortável com os milhares de sentimentos que sou, quer dizer, somos capazes de ter. Ler é um conforto e uma companhia sem cobranças. Quando é Jack Kerouac, é um sopro de vida. Quando é Marta Medeiros no jornal de domingo, é trivial, mas é delicado e eu gosto mesmo assim. Gosto de tudo o que fale da vida e de como ela é.

Olhando assim, pareço meio velha e até desanimada, mas não é bem isso. Me empolgo feito criança com shows de rock, canto loucamente minha música preferida no meio da rua, passo vergonha de tanta empolgação as vezes. É só que, também encontro felicidade na calma das coisas. E acho bonito observar e me encantar com coisas simples. Viver pode ser assim.

Na verdade, quero viver pra ver todas as maravilhas do mundo, as grandonas que alguém disse que eram maravilhas, as que não se pode ver - só sentir - e também as "maravilhas joaninha". Joaninhas encantam, mas se a gente só olhar pras coisas grandes e frenéticas, simplesmente não veremos as joaninhas em nossos joelhos . Assim como as coisas mais simples da vida, que são tão fáceis de fazer e deixamos passar. Então, quero viver pra tudo, inclusive para as joaninhas e outros prazes pacatos.