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sábado, 19 de abril de 2014

Eu quero ser a Bridget Fonda tomando sol no telhado.



Cliff e Janet trabalhavam juntos num café. Ela queria estudar arquitetura e ele tinha uma banda grunge. Saíam juntos as vezes, quer dizer, Cliff saía com tudo e todas, mas Janet se limitava a espera-lo ligar. Ela queria alguém engraçado, gentil, romântico e que dissesse "God Bless You" depois que ela espirrasse. Cliff reclamava se ela ficasse perto dele quando resfriada, porque se ele pegasse um resfriado, estragaria os shows marcados. Janet cogitava de tudo para que Cliff gostasse dela, até botar silicone sem querer ter peitos maiores, até fingir que não sabia que ele saía com outras, até ligar mil vezes, ou só comer salada pra não engordar. Cliff só queria curtir um som, sair com os amigos e ignorar aquela garota que tava sempre lá, enchendo o saco dele.

Até que um dia, depois de muito se sentir sozinha, Janet finalmente entendeu que precisava cuidar da própria vida. Saiu do café e usou suas economias não pra botar silicone, mas pra entrar na faculdade que ela tanto queria. Descobriu que era bom ficar sozinha e aí temos uma cena bem legal da Bridget Fonda tomando sol, de roupa, no terraço do prédio.

Cliff se arrependeu e quis voltar, foi gentil, disse que estava com saudades. Depois estourou os vidros do carro dela tentando fazer surpresa com o novo equipamento de som. Pra Janet isso já não tinha mais valor. Ela tinha aprendido a ficar sozinha. Com o tempo, Cliff também entendeu que não tinha sido atencioso na hora certa e agora era tarde demais.

Isso tudo é uma das historinhas contadas em "Singles - Vida de Solteiro", uma comédia romântica ambientada na Seattle dos anos 90, com umas aparições do Pearl Jam e do Alice in Chains. É o meu filme preferido há muitos anos e já há algum tempo eu pensava nessa história em especial. Se eu pudesse ser qualquer pessoa agora, eu seria a Janet tomando sol de roupa no telhado. A Janet que aprendeu a se amar. É isso o que eu sempre quis ser.

No final, eles se encontram no elevador, ela espirra e ele diz o que ela tanto queria ouvir. Eles começam a conversar e dá a entender que agora sim, pode ser a hora certa. Encorajador.

 Mas eu sei que a vida não é um filme grunge dos anos 90. A vida não é Cliff e Janet, por mais que eu queira. A vida sou eu e minhas frustrações, minha inconstância debaixo do sol da Lapa. Não posso garantir finais felizes como num filme do Cameron Crowe mas posso aprender com eles. Eu só posso seguir, trabalhando pra ser a Janet feliz, que até encontra o Cliff de novo, mas não deixa ela mesma pra trás.

Posso aprender a gostar de mim mesma, ser mais segura e vomitar menos de tanto nervosismo. E claro, sempre posso tomar sol na varanda escutando Pearl Jam, se é que isso vai ajudar em alguma coisa, mas parece muito divertido mesmo assim.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Notas sobre mim e sobre nada.

Não sei dançar se estiver sóbria. Tropeço nos meus pés e começo a rir nervosamente, rezando pra música acabar logo. Trauma de infância, timidez ou total ausência de traquejo social mesmo. Não melhora quando eu bebo, mas pelo menos eu não percebo que estou parecendo uma minhoca no sol. Não sei, não sei mesmo lidar.

Da última vez que andei de bicicleta, atropelei um vendedor de churros na orla da Lagoa. Minhas amigas juram que a culpa é minha, mas por que diabos estava o vendedor de churros parado na ciclovia? Ok, eu não sou boa de puxar o freio das coisas mesmo. Nunca evitei me apaixonar, desapaixonar, chorar, começar tudo de novo e ainda rir de mim por isso. Nunca evitei viver.

Durmo pouco, mas sou sempre a primeira a ir embora da festa. Por algum motivo vindo do além, não consigo ficar muito tempo em qualquer lugar que seja. Vivo basicamente de ir embora. Da festa, do trabalho, da cidade. Aí está outra coisa que não consigo evitar: quando dá a minha hora eu simplesmente vou. Sempre achei que o meu problema era morar na roça, mas mesmo na cidade grande eu ainda quero ir embora pra algum lugar que nunca vi, mas parece melhor. (Talvez por isso mesmo)

 A felicidade e a melancolia moram juntas por aqui, e vivem bem, viu? Já vivi o suficiente pra saber que tudo se encaixa, mas que tudo passa também. No fim é só lembrança trancada no fundo da memória, ninguém quer ou ninguém pode saber. A beleza está em observar e simplesmente aceitar como as coisas acontecem.

Aceitar os defeitos. Os poros dilatados, a inaptidão pra dirigir ou dançar, o medo irracional de répteis. O nariz torto, o cabelo com frizz. A falta de talento para cozinhar, o gosto por filmes esquecidos. A dificuldade de fazer coisas que parecem tão simples pros outros.

E depois disso, amar as coisas simples. O Sol que entra pela janela, a língua fofa dos bichinhos de estimação, a canção preferida que toca no rádio falando de liberdade bem quando você está a caminho do escritório.

Não sou boa de me dissolver na multidão, mas até que estou bem assim. Vivendo um dia de cada vez e sentindo tudo o que tiver sofrer. E sorrir.