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segunda-feira, 28 de março de 2011

A velha história da ovelha negra da familia.

Sempre soube que era estranha. Não importava o assunto, fosse a minha cara ou o que eu dizia, eu era estranha. Conforme eu ia crescendo e ouvindo meus pais contarem o quanto as minhas irmãs eram inteligentes e estavam indo bem na vida ( e o quanto eu tambem seria assim um dia), eu só tinha mais certeza de que eu não era boa assim e que obviamente um dia eles teriam que saber, e se decepcionar.

E conforme me viam crescer, acho que eles tambem se davam conta de que apesar de dois sucessos anteriores, alguma coisa tinha saído errado dessa vez.

Nunca fui uma aluna incrivel. a vida inteira fui muito elogiada pelos meus trabalhos de artes, redações e provas de história, mas se voce olhar bem isso não me deixa nem perto de me tornar uma brilhante médica ou engenheira como todo mundo sonhava. Como o mundo inteiro sonha, mas eu nunca.

Varias garotas leem esse blog e sei que diversas vezes se guiam por ele, o que significa que eu devia dizer pra voces que há uma formula magica para crescer e corresponder a todas as expectativas do mundo. Algum tipo de post sobre "como achar seu lugar no planeta em 10 passos", mas eu nao sei fazer isso. Eu sei provavelmente dicas ridiculamente rasas que nos dão em pre-vestibulares sobre "fazer algo que voce gosta", "fazer algo que vai te servir pra alguma coisa", mas eu e voces sabemos que as coisas não são faceis assim.

A questão em mim não é não saber quem eu sou ou quem eu quero me tornar, isso eu sempre soube. A vida inteira eu me olhei no espelho e tive certeza que a tendência era só corresponder ainda menos aos padrões. Quando criança sonhava em sair de casa pra ser tão estranha quanto eu quisesse sem precisar ouvir isso de ninguém, mas daí eu cresci e percebi que meus pais nunca fizeram isso por mal.

Talvez todo mundo achasse que era só uma fase, e é o que todo mundo com quem eu converso ainda acha. E por isso mesmo me aconselham a entrar nos eixos, a seguir o rebanho e entrar logo numa faculdade que vai garantir o meu futuro. Eu gostaria muito que eles estivessem errados.
Mas por que eles ficaram certos?

Vivemos num mundo onde é mais pratico sufocar nossas verdadeiras opiniões em nome da segurança de ter um carro e uma casa daqui a vinte anos. E provavelmente choverão pessoas "adultas" entendidas do assunto pra conversar comigo depois desse texto, pra me dizer que eu sou jovem e que os jovens sonham muito, mas eu realmente tenho medo de deixar de ser assim.

Me pergunto o que vai sobrar de mim, realmente de mim, se eu abrir mão do que é dito "estranho" pelas pessoas "responsaveis" . O que realmente sobrou de todo o resto? Todos escolheremos nossos caminhos pensando em corresponder expectativas? Primeiro as dos nossos pais, depois dos professores e aí do mercado... e as nossas proprias expectativas? As expectativas são dinheiro? Entao a gente come as expectativas, mora nelas, paga a escola dos filhos? Eu não sei, acho que poucas pessoas sabem.

Correr atras dos seus sonhos soa muito bonito, e realmente é um ótimo conselho se voce consegue. Mas penso tambem em quantas pessoas eu vou claramente decepcionar com isso. Porque eu sempre soube que alguma coisa tinha saído errado comigo, e até hoje eu consegui disfarçar isso até que muito bem. Eu sempre tive certeza que alguma hora eu ia ter que decidir entre ser eu ou fazer todo mundo feliz, achava que ia poder resolver isso quando a hora chegasse. O problema é que a hora chegou e eu ainda não sei o que fazer.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Obrigada (por ter me dado um pé na bunda)

Ultimamente, as pessoas tem me procurado pra pedir conselhos amorosos. Alias, não é de hoje que alguns amigos me procuram. Sempre de uma forma direta e meio bizarra eu procuro ajudar ou pelo menos escutar. Pois hoje, eu que vou contar uma história pra vocês.

Namoro há maior tempão, mas mesmo sendo muito tempo, antes disso eu obviamente vivi algumas outras coisas (leia-se: tive um numero bom de namorados). Nunca fui uma namorada comum, frequentemente ouvia um "todas as garotas querem isso, menos você! Como assim?", mas nesse caso em especial, eu dei trabalho.

Porquê eu dei trabalho, não é bem o foco desse texto. O foco é que eu levei um belo pé na bunda, assim com todas as letras mesmo. Não foi um fora, não fui largada... levei mesmo um pé na bunda. Durante os primeiros dias, eu fiquei re-vol-ta-da. Daí, todos aqueles clichês começam a passar na sua cabeça: "como eu pude ser tão burra?", "como eu não percebi que estava estragando tudo?" "como ele pode ser tão canalha?", isso tudo aí mesmo. Eu estava magoada, mas preciso admitir: naquela época eu era mesmo infantil. Dava shows de ciume por qualquer coisa, queria muito mais atenção que o necessário e inumeras vezes provocava brigas por pura birra de coisas pequenas. Admito, eu era realmente uma praga.

Desenterrei então todos os cds do nirvana, que até então eu guardava apenas pros momentos de maior depressão. Tirei todas as roupas surradas do armario e fiquei fazendo cosplay de grunge abandonada por uns dias. Mas eis que aí, eu comecei a prestar atenção no que eu estava ouvindo. E então, eu realmente me apaixonei pela primeira vez. Baixei Soundgarden, Guns n Roses, Queen e o que foi transformador: Ramones. Porque eu me sentia revoltada demais pra voltar pros meus cds de reggae ou surf music, ou qualquer coisa que eu ouvisse, e aí eu realmente descobri o rock n roll.

Junto com o rock que embalava toda minha raiva, eu parei pra ler. Como ficar na internet fuçando a vida do ex realmente doía, eu me afundei em livros. E em tres meses já tinha lido coleções inteiras! Como toda largada que se preze, tambem resolvi mudar de visual. Meu cabelos longos e dourados deram lugar a um mais curto e meio ruivo, minhas roupas ficaram menos largadas e eu passei a me ocupar com outras coisas. Foi aí tambem que comprei minha primeira câmera e acabei descobrindo que adorava fotos! (mas não, elas não eram boas)

E aí, por um acaso do destino, eu conheci o meu atual namorado. Que eu jamais conheceria se não fosse o pé na bunda que eu levei. Se eu nao tivesse tido um namorado antes, não tivesse sofrido, e me tornado uma pessoa mais interessante, nós simplesmente não teriamos nenhum gosto em comum! E a "nova musica" que eu tinha descoberto nos meus dias de tristeza acabou se tornando principal assunto com o meu novo amor. Irônico, mas divertido.

Sinceramente? Se eu pudesse dizer uma coisa ao meu ex-namorado (que certamente vai ler isso), essa coisa seria "Obrigada por ter me largado". Se ele não tivesse feito isso, eu não sei quando eu pararia pra investir em mim. Pra conhecer novas coisas, ampliar as opiniões, sonhos e tambem as probabilidades de conhecer alguem beeeeeeeeem melhor. Então, do namoro que passou, que fique claro: a melhor coisa que ficou foi o fim.