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sábado, 22 de março de 2014

Que acabou indo embora cedo demais.




Conheci Thalis aos nove anos de idade. Era amigo do meu primo, brincando no quarto do lado. Lembro até hoje que troquei de roupa pra ficar bonita pra ele, mesmo sem saber porquê. Ele passou o dia lá, gostava de Harry Potter e de umas musicas do Jota Quest e do LSJack, jurava falar a lingua das formigas, que tinha uma única palavra: "Piii". As seis da tarde eu já estava apaixonada, planejando nosso casamento e essas coisas que toda criança boba faz (vamos fingir que eu nunca fiz isso com meu namorado atual...).


Claro, que isso era em 2003 e crianças não namoram - pelo menos não namoravam naquela época - mas qual não foi a minha surpresa ao voltar pra visitar meus primos e encontrar uma cartinha do tal menino formiga? "Gabi, eu sei que da ultima vez que eu te vi, pareci um idiota, mas queria que você soubesse que eu te amo", era isso o que dizia, a direta e bonita carta de um menino de onze anos. Depois disso, nos vimos ainda muitas vezes, mas não era sempre, e mesmo assim a minha paixonite continuava. Continuou até 2005, quando eu me mudei e nós perdemos totalmente o contato. Sempre senti saudade dele.

Dois anos passaram, até que eu tivesse meu coração partido pela primeira vez. Outro cara qualquer, que jurou amor eterno - e aos treze anos a gente acredita em qualquer um que diga isso, pobre de mim - e me fez ficar em casa, curtindo uma bela fossa por alguns dias. Foi aí que no meio de uma faxina, eu achei a tal cartinha, do tal menino que gostava do Harry Potter. Assim como eu, ele tinha sobrenome dificil e eu me atrevi a procurar no finado orkut. Não deu outra, era ele!

Em um mês, na vespera de natal, ele apareceu lá em casa. Violão nas costas, charlie brown jr, mais do que ensaiado, e nós começamos a namorar. Éramos amigos, amigos acima de tudo, encantados um com o outro desde sempre. Amei-o tanto que talvez nem coubesse numa menina de treze anos. Lembro de passarmos dias conversando sobre rock, de irmos ao fliperama e de ele fazer minha lição de fisica porque eu era muito burra. Na realidade, o Thalis fez a minha lição de fisica até o fim do meu ensino médio, mesmo quando nós já tinhamos terminado há cinco anos. Não durou muito o nosso namoro, terminamos justamente porque éramos amigos demais.

E amigos fomos até hoje, ou até ontem? Eu lembrava dele em tantas coisas, nos grandes shows de rock que fui, na foto que roubei na infância - pra não esquecer nunca seu rosto - e tenho até hoje. Lembro quando novamente, ele apareceu lá em casa no natal, de gorro de papai noel e nós fomos passear na praia assim. Como eu ria, chamando ele de Wally! Seguimos caminhos diferentes na vida, arrumamos amores maravilhosos pra namorar, mas sempre conversávamos por horas. Sobre a vida, sobre o mundo, sobre tudo. Eu tinha sempre a certeza de que seria pra sempre a nossa história. De que eu teria um amigo pra sempre.

Agora, só a história é pra sempre e quero que ela fique contada pelo menos um pouquinho aqui. Thalis faleceu essa semana e eu ainda não consigo acreditar. Sempre vou ama-lo e sentir sua falta, sempre vou contar essa história - como sempre contei - porque é lindo saber que mantive um amor de infância ao meu lado, numa amizade sem igual, apesar de um milhão de adversidades. Eu torcia pelo Thalis e tenho certeza que ele torcia por mim, já que ele sempre me disse isso. Continuo aqui, torcendo pra que ele esteja num lugar maravilhoso agora. Mas não sem morrer de saudade e não sem desejar que tivesse ficado, nem que fosse pra aparecer de surpresa no próximo natal.