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sexta-feira, 30 de maio de 2014

All my loving - sobre descobrir o amor em sete anos.

Amei meu primeiro namorado como quem ama um príncipe encantado. Queria me casar, veja só quanta inocência... deu tudo errado. Ao segundo namorado, amei como criança que morre de medo e corre para abraçar o irmão mais velho. Não deu certo, mas irmãos fomos, até o dia em que ele resolveu  deixar de ser irmão para virar anjo da guarda. O terceiro, amei com medo e mágoa, não surpreende que tenha sido tão triste. O quarto, amei como quem tem fome. Queria agarrar ele e o mundo ao mesmo tempo. Queimava a loucura dentro de mim, mas como toda fogueira, apagou e bem rápido. Nada restou.

 O quinto chegou no quinto ano após o primeiro. Fez bagunça, fez sofrer. Fez desenhos no meu corpo e no coração. A ele, amo com plenitude e os pés no chão. Não no chão liso da coerência porque o amor não faz sentido, mas descalça no chão de terra, correndo e sentindo tudo o que tiver. Amo como quem encontrou um lugar para pertencer. Não como amei nenhum outro, porque antes eu não sabia como permanecer, e não sabia como amar. Dessa vez amo e fico, porque quero ficar. Ele permanece até agora, no sétimo ano após o primeiro. Permanecerá. E nele permaneço eu. Porque não há nenhum outro lugar que eu gostaria de estar que não fosse ao seu lado.

É como já tocavam os Beatles, algumas histórias que vieram antes são boas mas "in my life, I'll love you more". Sempre tem um sorvete preferido, um lugar, um cheiro... e um amor que a gente vai amar mais, não importando o amor dos outros.  E é desse que eu quero ficar junto enquanto estiver por aqui. E se existe depois, é ele também.






sexta-feira, 9 de maio de 2014

A culpa.

Nos ensinaram que tudo o que dá errado é culpa nossa. Se a gente vive numa sociedade que acha que a culpa do estupro é da mulher, e a culpa do assalto é de quem atendeu o celular na rua, por que não achariam que a culpa do sofrimento nos relacionamentos é de quem deu tudo de si, e não de quem resolveu ser um babaca, não é mesmo? Isso é fichinha perto de outras opiniões tão grotescas que as pessoas gritam por aí. Só que por favor, não se esqueça que isso é tudo mentira.

Desde pequena, me ensinaram a não provocar, não confiar, não dar bobeira, não dar "mole" por aí. Em relação a tudo? Não, em relação a pessoas. Sempre fomos ensinados a exigir, a pisar pra conseguir as coisas. Você discorda? Aposto que já ouviu conselhos como "não retorna as ligações pra ele(a) sofrer e aprender" ou "pisa que eles grudam".

Se o casamento ou os negócios de alguém estavam indo mal, a culpa provavelmente era da pessoa, que se deixou enganar. A culpa era da mulher que aceitava apanhar, a culpa era do cara que acreditou no sócio, da fulana que caiu num golpe porque era burra. Calma aí, não está escrito em lugar nenhum que as pessoas tem o direito de te fazer mal só porque você confiou nelas. Aliás, não está escrito em lugar nenhum que as pessoas tem o direito de te fazer mal. Só que também não está escrito em nenhum lugar que você pode fazer mal a elas.

Essa lei da defesa se aplica até nas situações mais simples. Por exemplo, sempre tenho amigas que não se apaixonam. Vivo ouvindo "tenho medo de me entregar e sofrer como sofri com meu ultimo namoro". Só uma pergunta: a pessoa que você está saindo agora, é a mesma pessoa de antes ou é um ser totalmente diferente? Ok, uma pessoa escrota apareceu na sua vida achando que tinha o direito de te magoar simplesmente porque ELA não sabia ou simplesmente não queria amar alguém. Mas isso não tem nada a ver com o resto do mundo. E mais ainda: nem sempre isso tem a ver com você.

Magoar pessoas não é uma coisa certa e aceitável e você simplesmente não deve viver com medo de ser magoado. Primeiro porque você pode fazer das suas mágoas o que quiser, não necessariamente guarda-las como um escudo contra o mundo. Você pode fazer até alguma coisa boa com elas, escrever uma canção, sei lá. E segundo, porque uma vez que você faz das suas magoas um escudo contra o mundo, você se torna aquela pessoa que te magoou lá atrás. Provavelmente você vai ter tanto medo de se desfazer das suas tristezas e sequelas anteriores, que não vai perceber quando pessoas legais chegarem. E vai jogar todas as suas frustrações em cima delas, achando que todos são iguais. Frustrações que na verdade, eram destinadas a outra pessoa. Ou talvez a pessoa nenhuma, porque a própria vida se encarrega de ensinar a quem magoa. Palavra de quem já foi idiota e aprendeu bastante.

O que eu quero dizer é: alguém um dia nos ensinou que a melhor defesa era o ataque ou a fuga, mas estavam errados. Esse até é o caminho mais "fácil", mas é um caminho que nunca tem fim. Quanto mais você ataca, quanto mais você foge em vez de amar, mais você contribui pra esse mundo egoísta que se molda a cada dia. Um mundo que culpa quem sofre como se sofrer fosse fraqueza e que não repudia quem machuca, como se isso sim fosse a verdadeira força que faz o mundo girar. Ou talvez seja assim, mas só porque a gente deixou ser e deixa mais a cada "ame ao próximo 100 vezes menos que a si mesmo".



domingo, 4 de maio de 2014

Prazeres pacatos e joaninhas.

Gosto de coisas simples. De passear pelo bairro, de comer pastel na feira, e brincar com os cachorros que as velhinhas levam pra passear no fim da tarde. Também adoro tirar fotos de coisas que eu vejo todo santo dia, como se elas fossem uma grande novidade, mas não sinto necessidade de documentar todos os passeios que faço. Gosto assim, do meio termo.

Amo cinemas de rua. Acho simplesmente maravilhoso ir ao cinema sem entrar no shopping e subir todas aquelas escadas rolantes e de quebra comer comida processada no fim da sessão. Gosto de ver o filme e voltar pra comer na padaria perto de casa, se puder voltar a pé então, melhor ainda. Aliás, restaurantes feiosos me cativam. Sou expert em restaurantes feios, mas com comida muito boa, pode confiar.

Além dos cinemas, as feiras de rua, os brechós e os museus são meus destinos preferidos. Gosto de tudo que me conte uma história. Seja nas mil cores da feira da Praça XV ou na seriedade de um Museu antiguissimo, eu sempre encontro algo pra contar e encantar.

Durmo cedo. Acordo cedo. Gosto do sol de outono no meu rosto, queimando e clareando meu cabelo. Gosto de passear a toa na praia, não sei se olhando o mar, ou as pessoas, ou novamente os cachorros das velhinhas no fim da tarde. Adoro cachorros. (E velhinhas, se elas não falarem de doença porque sou meio hipocondríaca e fico doente junto) Além de cachorros, adoro joaninhas e borboletas. Me sinto abençoada quando uma pousa no meu dedo ou nos meus joelhos.

Gosto de ler. Adoro livros com personagens bem humanos, que me façam sentir mais normal e confortável com os milhares de sentimentos que sou, quer dizer, somos capazes de ter. Ler é um conforto e uma companhia sem cobranças. Quando é Jack Kerouac, é um sopro de vida. Quando é Marta Medeiros no jornal de domingo, é trivial, mas é delicado e eu gosto mesmo assim. Gosto de tudo o que fale da vida e de como ela é.

Olhando assim, pareço meio velha e até desanimada, mas não é bem isso. Me empolgo feito criança com shows de rock, canto loucamente minha música preferida no meio da rua, passo vergonha de tanta empolgação as vezes. É só que, também encontro felicidade na calma das coisas. E acho bonito observar e me encantar com coisas simples. Viver pode ser assim.

Na verdade, quero viver pra ver todas as maravilhas do mundo, as grandonas que alguém disse que eram maravilhas, as que não se pode ver - só sentir - e também as "maravilhas joaninha". Joaninhas encantam, mas se a gente só olhar pras coisas grandes e frenéticas, simplesmente não veremos as joaninhas em nossos joelhos . Assim como as coisas mais simples da vida, que são tão fáceis de fazer e deixamos passar. Então, quero viver pra tudo, inclusive para as joaninhas e outros prazes pacatos.